Folha de S. Paulo


Nanico irlandês se agiganta e vira estrela da eleição no Reino Unido

Paul Faith/AFP
Democratic Unionist Party (DUP) leader Arlene Foster (L) celebrates with Former Democratic Unionist Party (DUP) Leader, Peter Robinson (R) at the counting centre in Belfast, Northern Ireland, early in the morning of June 9, 2017, hours after the polls closed in Britain's general election. Prime Minister Theresa May is poised to win Britain's snap election but lose her parliamentary majority, a shock exit poll suggested on June 8, in what would be a major blow for her leadership as Brexit talks loom. The Conservatives were set to win 314 seats, followed by Labour on 266, the Scottish National Party on 34 and the Liberal Democrats on 14, the poll for the BBC, Sky and ITV showed. / AFP PHOTO / Paul FAITH
Arlene Foster, líder do DUP, e Peter Robinson, ex-líder da sigla, comemoram resultados em Belfast

Com o resultado desastroso do governo Conservador na eleição antecipada do Reino Unido, quando tentava aumentar a base parlamentar e acabou ficando com minoria, o nanico Partido Democrático Unionista (DUP, na sigla em inglês), da Irlanda do Norte, surge como a estrela pós-eleitoral. Seus dez parlamentares eleitos, somados à bancada conservadora, garantem à primeira-ministra Theresa May a maioria para formar o governo.

A aliança não será novidade: o DUP já apoia a administração conservadora desde a eleição de 2015, quando David Cameron obteve maioria parlamentar apertada. Um ano depois, com a derrota de sua posição contrária à saída da União Europeia, no plebiscito que convocou sobre a questão, Cameron renunciou e sua ministra do Interior, Theresa May, assumiu o governo, sempre com apoio do partido unionista.

Agora, para não ser um governo de minoria, o mais provável é que o apoio se transforme em uma aliança formal, coalizão.

O DUP é o principal partido daqueles que defendem a manutenção da região norte da Irlanda no Reino Unido (por isso "unionista"), em vez da adesão à república da Irlanda, que ocupa a maior parte do território da ilha. Ele é a maior representante dos descendentes de imigrantes escoceses, predominantemente protestantes, que ocuparam a região durante o domínio britânico, formam a maioria da população local (que seria uma minoria dentro da Irlanda, predominantemente católica).

Foi nessa condição que o partido o principal responsável local pelas negociações de paz com os republicanos, liderados pelo Sinn Féin (chamado "braço político" do movimento armado IRA, que conduziu uma guerrilha de atentados, na Irlanda e na Inglaterra, entre 1969 e 1998).

Dois grupos radicais em seus lados, formaram uma aliança para conduzir juntos o governo da área, reconstituído pelo governo britânico após a pacificação, com o Acordo da Sexta-Feira Santa (10/4/1998). Foi um milagre de engenharia política, cujo equilíbrio surgiu da harmonia entre dois extremos.

Ben Stansall/AFP
A primeira-ministra do Reino Unido Theresa May após as eleições da última quinta (8)
A primeira-ministra do Reino Unido Theresa May após as eleições da última quinta (8)

Desde então, morreram seus dois principais líderes engajados na negociação da paz e condutores do processo de estabelecimento de um governo estável na paz: o reverendo protestante Ian Paisley, do DUP (em 2014), e o ex-militante da luta armada, Martin McGuinness (em março passado). Os dois obituários continham a memória dos elogios mútuos: a confiança entre os dois radicais adversários garantiu a coalizão improvável.

O sucesso da aliança deu aos dois lados o predomínio da política na Irlanda do Norte. Nesta eleição, o DUP ganhou dois assentos no Parlamento (tinha 8 antes) e o Sinn Féin, três (tinha 4, passa a 7). Com isso, sobrou apenas um deputado independente na região.

O partido nacionalista irlandês também representa uma irônica parte do processo pós-eleitoral. Embora seja radicalmente contrário aos Conservadores (o governo de sua líder Margaret Thatcher esmagou o IRA, enquanto o trabalhista Tony Blair devolveu a autonomia política à região) ele vai ajudar a sobrevivência de Theresa May, pois nunca assume as cadeiras no Parlamento –republicana, a sigla não reconhece a autoridade do governo britânico sobre a Irlanda.

Assim, com 7 deputados, o partido reduz o Parlamento a 643 cadeiras de fato.

No cenário nacional, DUP e Sinn Féin coincidem contra o "brexit": defendem juntos o virtual desaparecimento das fronteiras entre Irlanda do Norte e a república, que teriam que ser restabelecidas com um "brexit" mais radical; também a economia das duas áreas se fundiu radicalmente e ambos querem que continue assim. Ali ninguém quer um "brexit duro".

Por tudo isso, embora com uma dezena de deputados, o DUP será um radical defensor da saída suave da Europa. Com experiência bem-sucedida na condução do processo local, é possível pensar que o nanico venha a ser estrela não só pelo punhado de votos que oferece a May, mas também para forçar o governo conservador a conduzir uma boa negociação com a Europa.

Eleições no Reino Unido - Mapa com resultados da votação

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