Folha de S. Paulo


Conservadores vencem eleição, mas perdem maioria no Reino Unido

Lindsey Parnaby/AFP
People arrive at a polling station in Kingston-Upon-Hull, northern England, on June 8, 2017 as Britain votes in the general election. Polls opened in Britain today in an election Prime Minister Theresa May had expected to win easily but one that has proved increasingly hard to predict after a campaign shadowed by terrorism. / AFP PHOTO / Lindsey Parnaby
Centro de votação no Reino Unido

O Partido Conservador ganhou as eleições gerais desta quinta-feira (8) no Reino Unido, mas perdeu a maioria e precisará negociar apoio de outros partidos para governar.

Das 330 cadeiras que ocupa hoje, segundo as projeções, o partido da primeira-ministra Theresa May deve manter 315. O Parlamento tem 650 assentos, e é preciso ter maioria para governar sozinho.

Já o rival Partido Trabalhista, liderado por Jeremy Corbyn, ganhou 37 cadeiras, passando das 229 para 266, segundo a boca de urna. A diferença para os conservadores, porém, encolhe de 101 para 48. O Partido Liberal Democrata, de centro-esquerda, deve conquistar 14 cadeiras, o que o levará a ser cortejado pelos conservadores para formar a maioria.

Eleição no Reino Unido - Boca de urna indica que conservadores perderam maioria no Parlamento

A primeira-ministra, Theresa May, disse que os britânicos precisam de um período de estabilidade e reiterou como prioridade um bom acordo para o "brexit". "Minha vontade de fazer isso é a mesma agora que a de quando acordei nesta manhã."

O líder trabalhista, Jeremy Corbyn, pediu a renúncia de May e disse que o resultado mostra que "o povo votou pela esperança". "A política mudou. Não vai voltar ao padrão de antes. O povo já está cansado de austeridade e de cortes nos serviços públicos."

Os locais de votação fecharam às 22h (às 18h no horário de Brasília) e os primeiros números já foram publicados logo na sequência.

Mas a contagem oficial seguirá noite adentro, e alguns dos distritos só devem declarar os seus resultados durante a sexta-feira. O último deles, Berwick-upon-Tweed, no norte da Inglaterra, fará seu anúncio apenas ao meio-dia.

A maior perdedora da eleição é Theresa May, cujo objetivo, ao convocar as eleições antecipadas, em abril passado, era justamente engordar sua vantagem em relação ao Partido Trabalhista.

O Reino Unido segue o sistema distrital para eleger seus parlamentares. Portanto, os resultados não correspondem diretamente às porcentagens de voto. Havia 46,9 milhões de eleitores registrados, e o voto no país não é obrigatório.

May, que assumiu o governo no ano passado no lugar de David Cameron, queria ter uma maioria ampla entre os legisladores para ter negociar o "brexit", a controversa saída britânica do Reino Unido, que deve ser concluída até meados de 2019.

A primeira-ministra defende um modelo duro, em que o país deixará o bloco econômico e também o mercado único, que congrega 500 milhões de consumidores europeus. Trabalhistas discordam disso.

O "brexit" foi um dos principais temas que motivaram eleitores, ao lado do sistema de saúde e da educação.

Mobilizados para eleger um Parlamento que impeça os planos conservadores de um "brexit duro", eleitores compilaram listas para o voto tático em diversos distritos do Reino Unido. As tabelas indicavam que partidos tinham maior chance de derrotar a sigla de May —a margem em alguns deles era de poucos milhares de votos.

Os partidos concentraram suas campanhas nesses assentos para reverter as pequenas diferenças. Entre eles, algumas regiões de Birmingham, Bristol e Oxford.

Os conservadores, em especial, se enfocaram no centro do país, onde pesquisas apontavam declínio no apoio dos trabalhistas. Eram disputadas também as vagas que o Ukip (Partido de Independência do Reino Unido, de direita ultranacionalista) deveria perder durante o pleito —segundo as projeções, a legenda não terá nenhuma vaga no novo Parlamento.

Marko Djurica/Reuters
Cartazes em loja de apostas mostram a primeira-ministra, Theresa May, e o trabalhista Jeremy Corbyn
Cartazes em loja de apostas mostram a primeira-ministra, Theresa May, e o trabalhista Jeremy Corbyn

SEGURANÇA

As urnas haviam sido abertas às 7h locais (às 3h em Brasília). A primeira-ministra votou em Maidenhead, Berkshire, ao lado do marido el—a acenou a repórteres com um "olá" entusiasmado.

Corbyn, o líder trabalhista, votou em Holloway, no norte de Londres, onde foi recebido com loas por eleitores. Sua campanha foi marcada por um intenso apoio popular, reunindo multidões nos discursos.

Em seu último comício, na capital, ele havia dito na véspera que mudou a maneira britânica de fazer política. "Já transformamos o debate e demos esperança às pessoas. Esperança de que as coisas não têm que ser assim. Que a desigualdade pode ser combatida. Que a austeridade pode ter fim", disse.

Sua campanha foi, em geral, mais bem avaliada do que a de sua rival. Ela se recusou a participar de um debate televisivo, por exemplo, no que foi interpretado por alguns eleitores como marca de sua distância.

"Me impactou o fato de ela ter se esquivado de aparições públicas", diz à Folha Stephen Phee, 34, que votou nos trabalhistas na região de Church Street.

Ele afirma que, dos temas debatidos desde abril, o de maior impacto no seu voto era a educação. "Se os conservadores vencerem, haverá ainda mais custos nas universidades."

Um dos carros-chefe de Corbyn era trazer de volta a gratuidade das matrículas, tornadas pagas pelos conservadores –que consideram a medida impraticável, com os recursos disponíveis.

As eleições foram realizadas sem incidentes. Havia um reforçado aparato policial, depois de uma série de graves atentados, incluindo uma ataque na ponte de Londres que deixou oito mortos e 48 feridos no sábado. Três terroristas atropelaram e esfaquearam clientes de um mercado na região.

Houve longas filas em cidades universitárias, como Oxford, no que foi entendido como um sinal de bom augúrio aos trabalhistas -jovens de 18 a 24 anos preferem esse partido, com vantagem de 19 pontos percentuais, portanto seu comparecimento pode ser decisivo.

IMPRENSA

Desgostosos com a cobertura de parte da imprensa tradicional, que manteve uma postura bastante agressiva em relação ao candidato trabalhista, eleitores fizeram seus protestos na internet.

Um dos mais divertidos era contra o "The Sun", cuja primeira página de quinta-feira fazia um trocadilho entre Corbyn e a palavra "bin", que significa lixeira em inglês. Britânicos publicaram suas fotografias jogando o jornal fora ou mostrando o dedo do meio para a edição.

Outra campanha, desta vez sem conotação política, era a já tradicional publicação de fotografias nas urnas ao lado de seus cachorros. O jornal britânico "Guardian" compilava as melhores produções –com o destaque ao eleitor alternativo que levou uma chinchila para o voto.

Circulavam também imagens de urnas inusitadas, como aquela dentro de um vagão de trem em Yorkshire, ou um moinho de vento em uma região não identificada.


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