Folha de S. Paulo


Trump defende uso do Twitter; assessores lhe pedem contenção

O presidente Donald Trump, que está sendo pressionado para reduzir os canhonaços em 140 caracteres, revidou na manhã de terça-feira (6) com dois tuítes defendendo o uso da rede social e atacando as organizações de notícias "falsas" por tentarem lhe negar sua arma política.

"A mídia falsa da corrente dominante está dando duro para me fazer não usar a rede social", escreveu ele às 7h58, voltando sua mira para a grande mídia depois de dois tuítes de aquecimento sobre clipes da "Fox & Friends". "Eles odeiam que eu possa mandar mensagens honestas e não filtradas."

Dezessete minutos depois, Trump –que se reuniria com congressistas republicanos mais tarde nesta terça para lhes informar sobre a viagem ao exterior no mês passado– tuitou de novo. "Desculpe, pessoal, mas se eu tivesse confiado nas Notícias Falsas da CNN, NBC, ABC, CBS, washpost ou nytimes, teria tido ZERO chance de ganhar a Casa Branca", escreveu.

Apesar de a mídia da corrente dominante ser o alvo de sua ira matinal na terça, a própria equipe de Trump tem criticado firmemente seus hábitos tuiteiros, com membros de suas equipes jurídica, de comunicações e política pedindo-lhe que reduza a autoexpressão em nome da autopreservação política.

Trump os tem descartado em geral, embora se atenha de forma intermitente a pronunciamentos anódinos sobre políticas ou reuniões simpáticas com líderes estrangeiros, como fez durante sua viagem de nove dias ao Oriente Médio e à Europa. Nesse período, segundo assessores, ele esteve simplesmente ocupado demais para tuitar.

Mas as manhãs pertencem ao Twitter para o presidente, e a maior parte do prejuízo na rede social –ou bem, na visão de Trump– ocorre enquanto ele se prepara para iniciar o dia.

Os advogados de Trump, dentro e fora da Casa Branca, tornaram-se cada vez mais preocupados com suas ruminações, explosões e autodefesas nervosas na rede social, sobre temas juridicamente delicados. Estes incluem a investigação de se sua campanha teve conluio com a Rússia, sua repentina demissão do diretor do FBI James Comey e a batalha sobre sua ordem executiva revisada que barrava imigrantes de países de maioria muçulmana.

Em público, o problemático secretário de imprensa de Trump, Sean Spicer, continuou defendendo os tuítes do presidente –muitas vezes dizendo aos repórteres que "o tuíte fala por si só" quando pressionado sobre alguma declaração especialmente polêmica. Mas em particular ele pediu que seu chefe editasse mais o texto, segundo três pessoas a par da situação.

Mandel Ngan - 8.mai.2017/AFP
White House Press Secretary Sean Spicer speaks during the daily briefing in the Brady Briefing Room of the White House on May 8, 2017 in Washington, DC. / AFP PHOTO / Mandel NGAN ORG XMIT: MNN004
O secretário de imprensa de Trump, Sean Spicer

Na segunda (5) à noite, o diretor de assuntos legislativos de Trump, Marc Short, disse que "muitos" tuítes do presidente são úteis para transmitir sua mensagem de mudança aos eleitores e legisladores. Mas ele também disse que os problemas do presidente, especialmente as atuais investigações do Congresso, tornam mais difícil ficar "concentrado" na aprovação das ambiciosas leis de reforma fiscal, seguro-saúde e infraestrutura.

E o esforço jurídico de Trump para manter sua proibição de viagens, que ele espera vencer na Suprema Corte, foi minado por seus repetidos tuítes sugerindo que a medida se destinava a impedir a entrada de muçulmanos no país, segundo juristas.

Em uma série de tuítes, ele prejudicou seus próprios advogados ao criticar o decreto reescrito, que foi redigido para se defender de processos legais que alegassem que a proibição era discriminatória com base na religião. Trump elogiou "a proibição de viagens original, não a versão diluída, politicamente correta" emitida em março –e atacou o Departamento de Justiça e os tribunais federais.

Ele seguiu contradizendo seus próprios assessores, que evitaram usar a expressão "proibição de viagens", escrevendo "o que precisamos e o que é, uma PROIBIÇÃO DE VIAGENS!" Ele disse que seria imposta a "certos países PERIGOSOS" e sugeriu que qualquer coisa que não fosse uma proibição "não nos ajudará a proteger nossa população!"

Isso provocou uma reação digna de nota de um proeminente advogado conservador, George Conway, que também é marido da assessora de Trump Kellyanne Conway. George Conway caçoou do presidente em seu próprio tuíte.

"Esses tuítes podem fazer algumas pessoas se sentirem melhor, mas certamente não vão ajudar alguém a conseguir 5 votos na Suprema Corte, que é o que realmente importa. Triste", escreveu Conway, que recentemente retirou seu nome de consideração para um alto cargo no Departamento de Justiça.

Traduzido por LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES


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