Folha de S. Paulo


Arábia Saudita e aliados rompem relações com o Qatar por 'terrorismo'

AFP
Prédios na região central de Doha, a capital do Qatar
Prédios na região central de Doha, a capital do Qatar

A Arábia Saudita e seus aliados romperam nesta segunda-feira (5) as relações diplomáticas com Qatar, ao acusar o país de apoiar o "terrorismo". A decisão abre uma grave crise diplomática no Oriente Médio pouco dias após Donald Trump pedir a união dos árabes ante o extremismo.

O Qatar rejeitou a decisão, que chamou de "injustificável" e "sem fundamento".

O país afirmou que o objetivo da medida é "colocar o Estado (do Qatar) sob tutela" e asfixiá-lo economicamente.

A Bolsa de Doha encerrou a sessão de segunda-feira em forte queda de 7,58% e os moradores da capital correram aos supermercados para estocar alimentos, de acordo com o site Doha News.

A ruptura das relações da Arábia Saudita, Bahrein e Emirados Árabes Unidos, além de Egito e Iêmen, com o Qatar aconteceu duas semanas após uma visita a Riad do presidente americano Donald Trump, que pediu aos árabes e muçulmanos uma mobilização contra o extremismo. As Maldivas, um arquipélago localizado no oceano Índico, e o governo da Líbia sediado no leste do país –que não é reconhecido internacionalmente– também se uniram no boicote ao Qatar.

A decisão provocou uma reação comedida de Washington –aliado de Riad e de Doha–, que pediu aos países do Golfo que permaneçam "unidos".

A Turquia, país ligado ao Qatar, e o Irã fizeram apelos a favor do diálogo. A aproximação de Teerã com o Qatar irritou os países vizinhos do Golfo. O Irã xiita é considerado o grande rival regional da sunita Arábia Saudita.

Os dois países romperam relações diplomáticas em janeiro de 2016, após a execução de um líder xiita na Arábia.

CRISE MAIS GRAVE EM DÉCADAS

Esta é a crise mais grave desde a criação em 1981 do CCG (Conselho de Cooperação do Golfo), formado por Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuait, Omã e Qatar.

O Qatar sempre ocupou um lugar à parte no CCG, com sua própria política regional e afirmando sua influência por meio do esporte, em especial com a organização da Copa do Mundo de 2022.

Arábia, Emirados e Bahrein justificaram a ruptura com o Qatar por seu "apoio ao terrorismo", a organizações como Al-Qaeda, Estado Islâmico (EI) e Irmandade Muçulmana, grupo que é considerado "terrorista" pelo Egito e os países do Golfo.

O ministério das Relações Exteriores do Egito informou que o Cairo decidiu "acabar com as relações diplomáticas com o Estado do Qatar" porque Doha apoia o "terrorismo".

O Qatar foi um dos principais apoios ao ex-presidente islamita egípcio Mohamed Mursi, derrubado em 2013 pelo ex-comandante das Forças Armadas e atual presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sisi. Desde então os dois países têm uma relação tensa.

Alguns analistas temem que a situação provoque a repetição da crise de 2014, quando vários embaixadores de países do Golfo em Doha foram convocados por seus governos, em especial por acusações de que o país apoiava a Irmandade Muçulmana.

No início desta tarde (horário de Brasília), a TV estatal saudita anunciou o fechamento do escritório de Riad da Al Jazeera, rede noticiosa sediada em Doha.

FORA DA COALIZÃO MILITAR

O Qatar também foi expulso da coalizão militar árabe que atua no conflito no Iêmen, pelo suposto apoio à Al Qaeda e ao EI no território iemenita, segundo um comunicado divulgado pela agência oficial saudita SPA.

A coalizão liderada pela Arábia Saudita está presente há mais de dois anos no conflito do Iêmen para apoiar o governo de Abd Rabo Mansur Hadi, que luta contra os rebeldes huthis, um grupo de milícias xiitas.

O Iêmen também anunciou a ruptura das relações diplomáticas com o Qatar.

O conflito iemenita já deixou mais de 8.000 mortos e 45.000 feridos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A Arábia Saudita, que tem as Forças Armadas com melhores equipamentos do Oriente Médio depois de Israel, é um dos principais compradores de armas do mundo e também um dos grandes aliados de Washington na região, frente ao Irã e contra o grupo Estado Islâmico (EI) na Síria e Iraque.

Além da ruptura das relações diplomáticas, os países do Golfo adotaram medidas de represália sem precedentes: fechamento dos espaços aéreos, dos acessos terrestres e marítimos, proibições de viagens ao Qatar e de entrada de cidadãos do Qatar.

O Egito, além de cortar vínculos diplomáticos, também decidiu fechar as conexões "aéreas e marítimas" com o Qatar.

A suspensão dos voos com destino ou origem no Qatar foi anunciada pelas principais companhias aéreas do Golfo: Emirates, Etihad, Air Arabia, fly Dubai, Saudia e Gulf Air.

Em resposta, a Qatar Airways também anunciou a suspensão de todos os voos para a Arábia Saudita.


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