Folha de S. Paulo


Donald Trump deve tirar EUA de acordo climático, diz imprensa

O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciará nesta quinta-feira (1º), às 16h de Brasília, sua decisão sobre retirar ou não o país do Acordo de Paris sobre o clima, em meio a relatos da mídia americana de que ele pretendia abandonar o pacto.

As autoridades citadas pelos jornais, porém, ponderavam que o republicano ainda não havia tomado a decisão definitiva, e parte de seu gabinete tentava dissuadi-lo de deixar o acordo global.

Trump usou uma rede social para dizer que faria o anúncio nesta quinta e repetiu seu slogan de campanha "Fazer a América grandiosa de novo", o que foi visto como um possível indício de que sairia do acordo.

Formulado em 2015 e assinado por 197 países e blocos, o tratado é a principal iniciativa global para frear as mudanças climáticas ao criar o compromisso de manter o aquecimento da Terra abaixo de 2°C (em relação à era pré-industrial) até o fim do século, tentando limitá-lo a 1,5°C.

Na cúpula do G7 (grupo das sete principais economias desenvolvidas) na semana passada na Itália, o líder americano foi pressionado por líderes mundiais a manter os EUA no pacto. O país é o segundo maior emissor de gases-estufa, atrás da China.

Segundo o jornal britânico "Financial Times", o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que o organismo tem pressionado os EUA a se manterem no acordo e vinha tentando convencer Trump de que sair do tratado poderia ameaçar a segurança e a economia do país.

Durante a campanha eleitoral em 2016, Trump classificou o aquecimento global de "farsa" e ameaçou retirar os EUA do acordo —o governo de Barack Obama fora um dos fiadores do tratado, por meio do qual os países se comprometem com metas de redução da poluição.

Parte da base eleitoral do presidente contesta o aquecimento global, apesar das provas científicas, ou contesta sua velocidade ou a responsabilidade do homem pela mudança climática.

Além disso, o republicano afirma que o pacto ameaça a capacidade produtiva dos EUA ao estabelecer limites para a emissão de poluentes. Ele também vem relaxando regulamentações ambientais e tenta cortar a verba da área.

A eventual saída dos EUA poderia comprometer metas do acordo e mudar a forma como outros governos, sobretudo os de países em desenvolvimento como China e Índia, tratam o compromisso.

Durante as negociações, esses países arrogaram-se o "direito de poluir" por mais tempo, já que sua industrialização e sua consequente ação poluidora é mais tardia.

Também nesta quarta, porém, reportagem do "Financial Times" informou que a China e a União Europeia anunciarão um acordo nesta sexta (2) para tomar medidas que "acelerem o processo irreversível de reduzir o uso de combustíveis fósseis".

Tal entendimento e o consequente engajamento chinês no processo poderiam, segundo analistas, mitigar parte do efeito da saída dos EUA do Acordo de Paris.

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ACORDO DE PARIS
Documento foi acertado em dezembro de 2015

O que é
Com força de lei internacional, o Acordo de Paris é um documento "híbrido", com partes obrigatórias para todos seus signatários (como monitorar e reportar emissões) e outras não (recomendações)

Objetivos
Em longo prazo, manter o teto do aquecimento global abaixo de 2ºC, preferencialmente abaixo de 1,5ºC

Meios
Cada país deve ter sua própria meta para reduzir emissões poluentes (as INDCs). No entanto, elas não são obrigatórias –exigência imposta pelos EUA e outros países

Efetividade
Como estão hoje, as INDCs são insuficientes para a meta (aquecimento ficaria entre 2,7ºC e 3,5ºC). Por isso, as INDCs deverão ser revistas a cada 5 anos, mesmo sem a obrigatoriedade de que sejam modificadas

Financiamento
Acordo estabelece piso de US$ 100 bilhões anuais que deverão ser transferidos de países ricos aos mais pobres até 2025, para custear ações de combate à poluição

Promessa
Apesar de suas limitações, o Acordo do Clima é considerado um avanço por ter legitimidade entre as grandes nações poluentes do mundo (como EUA, China e Índia)


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