Folha de S. Paulo


Em centenário, americanos veem JFK além do mito e de segredos familiares

Cecil Stoughton/Reuters
Former U.S. President John F. Kennedy and first lady Jacqueline Kennedy arrive at Love Field prior to his assassination in Dallas,Texas, in this handout image taken on November 22, 1963. Friday, November 22, 2013, will mark the 50th anniversary of the assassination of President Kennedy. REUTERS/Cecil Stoughton/The White House/John F. Kennedy Presidential Library (UNITED STATES: Tags: POLITICS ANNIVERSARY) ATTENTION EDITORS - THIS IMAGE WAS PROVIDED BY A THIRD PARTY. FOR EDITORIAL USE ONLY. NOT FOR SALE FOR MARKETING OR ADVERTISING CAMPAIGNS. THIS PICTURE IS DISTRIBUTED EXACTLY AS RECEIVED BY REUTERS, AS A SERVICE TO CLIENTS ORG XMIT: WAS105
Kennedy e a primeira-dama Jacqueline chegam a Dallas em 22/11/63, dia do assassinato

Nesta segunda (29), o ator Martin Sheen, que interpretou o carismático presidente democrata Jed Bartlet da série "The West Wing", subirá ao palco do Kennedy Center, em Washington, para ler trechos de discursos de John F. Kennedy, o presidente mais popular dos EUA desde o fim da Segunda Guerra.

O encontro entre ficção e realidade faz parte das comemorações pelo centenário de nascimento de JFK, que, em seu breve mandato, registrou a maior média de aprovação (70%) de um presidente desde 1945 e cujo legado só passou a ser questionado décadas após seu assassinato, em novembro de 1963.

O fascínio exercido por Kennedy e por tudo o que o cercava blindou seu governo por anos após sua morte, junto com um grande esforço da família de manter em segredo suas traições.

Mais novo presidente a assumir o posto nos EUA, aos 43, Kennedy era bonito e bom orador, tinha uma mulher elegante tão carismática quanto ele e duas crianças adoráveis –cuja imagem brincando no Salão Oval é uma das mais buscadas na exposição sobre seu centenário no Museu de Arte Americana de Washington.

Contam ainda a favor de Kennedy seu posicionamento público em favor dos direitos civis, seu incentivo à corrida espacial americana e sua decisão por não escalar o conflito na crise dos mísseis de 1962 com Rússia e Cuba.

Para muitos historiadores, no entanto, a morte trágica de JFK e a insatisfação popular com governos posteriores prejudicaram uma análise mais objetiva sobre o real desempenho de Kennedy.

Robert Dallek, autor de "John F. Kennedy - An Unfinished Life" (Uma vida inacabada), defende no livro que as conquistas de Kennedy no país "ficam muito aquém de qualquer coisa que possa o identificar como grandioso ou mesmo perto de grandioso".

O democrata, por exemplo, só teria começado a falar mais enfaticamente sobre a necessidade do fim da segregação diante do aumento da pressão popular, meses antes de sua morte. Caberia ao seu vice –e sucessor–, Lyndon Johnson, implementar a Lei de Direitos Civis, em 1964.

Dallek aponta ainda o fracasso da invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, em 1961, e a escalada iniciada, em seu governo, da Guerra do Vietnã.

Com os anos, os americanos tomaram conhecimento de todas as amantes do presidente –de Marilyn Monroe à estagiária Mimi Alford, que afirmou ter perdido a virgindade com Kennedy, aos 19, na cama da primeira-dama.

Anos depois, foi revelado que JFK também havia feito gravações secretas de conversas no Salão Oval e que escondia do público sua frágil condição de saúde –ele tinha mal de Addison, que lhe dava fortes dores nas costas, tratadas com injeções.

Nada disso, porém, manchou a imagem de Kennedy a ponto de atrapalhar o caminho de sua família na política. Pelo contrário, seu nome e suas citações ainda são referências para sucessores.

Para Trump, uma menção seria providencial neste momento: a do canal secreto mantido entre Kennedy e Moscou em meio à Guerra Fria, que teria evitado um confronto entre as potências.


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