Folha de S. Paulo


Análise

Na Europa, Trump e antigos críticos tentam entrar em acordo

Paolo Santalucia/Associated Press
Oxfam activists wearing masks of the leaders of the G7 summit; from left, Italian Premier Paolo Gentiloni, US President Donald Trump, German Chancellor Angela Merkel, Japanese Prime Minister Shinzo Abe, French President Emmanuel Macron and Canadian Prime Minister Justin Trudeau, stage a demonstration in Giardini Naxos, near the venue of the G7 summit in the Sicilian town of Taormina, southern Italy, Friday, May 26, 2017. Climate change promises to be the most problematic issue for this summit after Trump's decision to review U.S. policies related to the Paris Agreement on fighting global warming. (AP Photo/Paolo Santalucia) ORG XMIT: ROM110
Ativistas na Itália com máscaras de líderes mundiais; Da esq. para a dir., Paolo Gentiloni (Itália), Trump (EUA), Merkel (Alemanha), Shinzo Abe (Japão), Emmanuel Macron (França) e Trudeau (Canadá)

Na primeira escala de sua viagem ao exterior, a Arábia Saudita, o presidente Donald Trump foi recebido com cavalos e aviões militares. Na segunda, em Israel, foi elogiado por seu "amigo", o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. Na terceira, no Vaticano, teve "a maior honra de sua vida", uma audiência com o papa Francisco.

Foi apenas em sua quarta escala, na Bélgica –mais especificamente, em Bruxelas, cidade que durante sua campanha Trump descreveu como "buraco infernal"– que milhares de pessoas se reuniram para protestar contra sua chegada.

Trump foi a Bruxelas para participar de sua primeira reunião da Otan, um encontro aguardado com ansiedade por outros membros da organização, em vista das ameaças do presidente americano de tirar os EUA da aliança se os outros membros não elevassem seus gastos com a defesa para alcançar o nível recomendado de 2% de seu PIB.

Dirk Waem/AFP
Demonstrators protest outside the NATO (North Atlantic Treaty Organization) headquarters in Evere, Brussels on May 25, 2017, as world leaders gather for a NATO summit. US President Donald Trump on May 25, ran into the first problems of a landmark European trip, embarrassingly called out in public over Russia and on leaks into the Manchester terror attack. / AFP PHOTO / Belga / DIRK WAEM / Belgium OUT
Protesto contra Trump diante da Otan, em Bruxelas

Antes da reunião, porém, Trump se reuniu com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, o presidente do Conselho Europeu (e ex-primeiro-ministro da Polônia) Donald Tusk e o presidente francês, Emmanuel Macron.

Cada um dos três havia se manifestado anteriormente contra Trump, que saudou o "brexit" (a saída do Reino Unido da UE), aplaudiu os planos de Marine le Pen de enfraquecer a Europa e pareceu questionar se uma Europa forte e unida atenderia aos interesses dos Estados Unidos. Juncker, em março, descreveu como "irritantes" os elogios de Trump ao "brexit".

Em janeiro, Donald Tusk deu a entender que Trump é uma ameaça à Europa. E Emmanuel Macron, em sua campanha presidencial, fez um vídeo convidando cientistas americanos a se mudarem para a França, onde a liderança está engajada com coisas de ponta como a ciência e a realidade.

Mas agora os três precisam encontrar terreno comum com Trump, cujo apoio é crucial para a continuidade da parceria entre EUA e Europa, que não é muito menos necessária hoje do que era nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial.

O encontro não foi um fracasso total, embora algumas divergências incômodas tenham se evidenciado claramente.

No que diz respeito à Rússia, o tópico mais presente na cabeça de muitos (embora não fizesse parte da agenda oficial do encontro da Otan), Donald Tusk disse: "Não estou 100% certo de que possamos dizer que temos uma posição comum, uma opinião comum sobre a Rússia, se bem que estivéssemos de acordo em relação ao conflito na Ucrânia".

No passado, mesmo no passado recente, muitos países europeus –que estão mais próximos da Rússia e têm relações comerciais maiores com ela– relutavam em adotar atitude muito confrontante com Moscou. Agora a situação parece ter se invertido: os europeus veem com profunda preocupação os esforços russos organizados de semear divisões na Europa e enfraquecer a União Europeia, enquanto Trump aplaude a dissolução do bloco.

Mas alguns tópicos, como o contraterrorismo, foram tratados sem dificuldade, enquanto outros, como o clima e o comércio, se mostraram mais espinhosos (se bem que Trump parece ter descoberto pelo menos um aspecto negativo do "brexit", que ele agora acredita que possa colocar empregos nos EUA em risco).

Tusk ressaltou os valores fundamentais que estão à base do relacionamento entre EUA e Europa, enquanto a administração Trump deixou claro que está menos interessada em princípios que em pragmatismo.

Trump então teve um almoço de trabalho com Macron, que destacaria a importância de os EUA continuarem a apoiar o acordo de Paris sobre a mudança climática. A participação americana no acordo é alvo de críticas crescentes nos EUA.

Trump, que praticamente endossou Le Pen, a rival de Macron, durante a campanha eleitoral francesa, disse: "É uma grande honra estar com o recém-eleito presidente da França, que fez uma campanha incrível e conquistou uma vitória tremenda. Estão falando dela no mundo inteiro. E temos muita coisa a discutir, incluindo o terrorismo e outras coisas. Parabéns. Ótimo trabalho."

Ele e Macron têm em comum pelo menos uma coisa: apreciam um aperto de mãos firme. O repórter presente ao encontro descreveu o cumprimento prolongado trocado por eles falando em "mãos e dentes cerrados".

Tradução de CLARA ALLAIN


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