Folha de S. Paulo


Líder trabalhista acusa governo de falhar em evitar terror no Reino Unido

O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, discursou nesta sexta-feira (26) relacionando a política externa britânica ao atentado que deixou 22 mortos em Manchester dias antes. Ele concorre às eleições de 8 de junho.

Em uma polêmica fala, marcando o retorno da campanha eleitoral, que havia sido interrompida pelo ataque terrorista, ele afirmou que "o próximo governo precisa fazer melhor" do que a atual gestão da premiê conservadora, Theresa May.

Neil Hall - 28.jun.2016/Reuters
The leader of Britain's opposition Labour party, Jeremy Corbyn, leaves his home in London, Britain June 28, 2016. REUTERS/Neil Hall ORG XMIT: LON805
O líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn

"A responsabilidade do governo é minimizar a chance de um ataque terrorista, garantir que a polícia tenha os recursos de que precisa, que nossa política externa reduza em vez de aumentar as ameaças a este país."

Houve crítica desde a véspera, quando o discurso fora anunciado, à ideia de que o Reino Unido contribuiu ao atentado contra o próprio país ao se envolver em intervenções externas. Amenizando a controvérsia, o líder trabalhista reconheceu que "nenhum governo pode prevenir todos os ataques".

Corbyn prometeu dedicar uma fatia mais gorda do orçamento aos serviços públicos para garantir a segurança do país. Ele criticou os cortes recentes no efetivo policial e afirmou que irá contratar mais pessoal, com "todas as medidas necessárias".

A primeira-ministra May reagiu ao discurso de Corbyn defendendo as medidas tomadas pelo ser governo para evitar atentados e proteger os cidadãos. "Não há justificativas para o terrirismo", afirmou.

A líder conservadora também criticou seu adversário, dizendo que ele "não é apto para o trabalho" de primeiro ministro.

Ben Wallace, um ministro conservador para a segurança, afirmou que os comentários de Corbyn vieram em um momento horrível. "Essas pessoas odeiam os nossos valores, e não a nossa política externa", afirmou.

Tim Farron, líder do partido liberal Lib Dem, formado em 1988, também criticou a fala do trabalhista. "Alguns dias atrás, um jovem construiu uma bomba, foi a um concerto pop e intencionalmente matou crianças", disse. "Corbyn decidiu usar aquele ato grotesco para fazer um argumento político."

As estimativas de voto sugerem que o Partido Trabalhista será derrotado nas eleições de 8 de junho, mas a diferença em relação ao Partido Conservador tem sido reduzida nestes dias.

Uma pesquisa do YouGov publicada pelo "Times" dá 43% de votos aos conservadores, contra os 38% dos trabalhistas. Foram ouvidos 2.052 eleitores em 24 e 25 de maio. Não há informação sobre a margem de erro.

POLICIAMENTO

A ministra do Interior, Amber Rudd, negou em uma entrevista na quinta-feira (25) que os cortes na polícia contribuíram com o ataque.

O governo fora avisado de que reduzir o número de funcionários poderia afetar a capacidade de inteligência. Rudd disse, porém, que essas investigações não dependem de policiais nas ruas, mas de seus programas de combate ao terrorismo.

"Pode haver uma conversa sobre o policiamento, podemos fazer isso em algum momento", disse à rede BBC. "Mas agora não é esta conversa. Precisamos deixar de sugerir que essa ação terrorista não teria ocorrido se houvesse mais policiamento."

As investigações do atentado a Manchester contra uma apresentação da cantora americana Ariana Grande prosseguem com diversas ações policiais na região da cidade. O total de detidos chegou a dez na manhã de sexta-feira, incluindo um irmão de Salman Ramadan Abedi, o homem-bomba.

As autoridades britânicas encontraram material explosivo semelhante àquele utilizado na explosão. Uma casa em Wigan foi vasculhada.

É possível que cúmplices estejam às soltas, o que justifica a manutenção do estado de alerta em seu nível mais alto, "crítico". Há indícios de que Abedi agiu como parte de uma rede mais ampla.

ATAQUE EM MANCHESTEROnde explodiu o homem-bomba que deixou 22 mortos e dezenas de feridos

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