Folha de S. Paulo


Após quase 20 anos de obras, Otan se muda para nova sede em Bruxelas

Depois de quase duas décadas, a nova e bilionária sede da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) foi enfim entregue à aliança ocidental pela construtora belga encarregada do projeto, quinta-feira (25), em tempo para a primeira visita do presidente dos EUA, Donald Trump, à organização.

A nova sede, uma construção de aço e vidro em formato de garra, na qual os edifícios são interligados por corredores de vidro com área equivalente à de dez campos de futebol, foi entregue sem atrasos e dentro do orçamento, ao menos na versão oficial, apesar de reportagens e de relatórios da organização em contrário. A nova estrutura custou cerca de 1,1 bilhão de euros (R$ 4,03 bilhões).

Mandel Ngan/AFP
Funcionários da Otan hasteiam bandeiras de seus países na nova sede da aliança militar em Bruxelas
Funcionários da Otan hasteiam bandeiras de seus países na nova sede da aliança militar em Bruxelas

"Nunca perguntei quanto custou a nova sede da Otan. Recuso-me a fazer isso", disse Trump, antigo empresário imobiliário que costumava se vangloriar de que seus projetos eram sempre concluídos no prazo e por valor abaixo do orçado. "Mas é bonita".

O pessoal da Otan trabalha até agora em um quartel-general construído nos anos 60 em Bruxelas, do outro lado da rua da nova sede, ocupando um terreno que abrigava uma base aérea da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

A nova sede foi construída às presas quando a aliança foi forçada a deixar Paris, depois que a França se retirou do comando militar da Otan, em 1966.

Naquele momento, boa parte da energia dos construtores foi dedicada a remover as pistas de pouso de concreto que existiam no local, e a construir uma série de edifícios cujo projeto "não exibia nenhuma extravagância arquitetônica", de acordo com François Le Blevennec, antigo funcionário da Otan que testemunhou a mudança de Paris para Bruxelas.

"Um dos grandes problemas do secretário geral da organização, naquela época, era a falta generalizada de entusiasmo pela mudança para Bruxelas, da parte da equipe internacional que teria de se instalar na cidade", escreveu Le Blevennec no site da Otan, antes de se aposentar em 2007.

Depois de décadas trabalhando nos edifícios beges, quadrados e monótonos da velha sede, o entusiasmo do pessoal da Otan é maior, desta vez, não menos porque um quinto dos escritórios da velha sede são estruturas improvisadas.

"Há vazamentos constantes nos edifícios", disse um dos enviados à Otan, cuja equipe se acostumou aos escritórios precários. "E não estamos falando de vazamentos de informações".

SEGREDO

A aliança passará a ser formada por 29 países, quando Montenegro aderir à Otan no mês que vem, e sua sede abrigará 42 quilômetros de arquivos e 4.200 funcionários, trabalhando em uma área equivalente à da sede das ONU em Nova York.

Exceto que, para atender às normas de construção que vigoram em Bruxelas, o novo quartel-general da Otan tem altura máxima de 32 metros, em seu ponto mais elevado.

Em um referência às origens da Otan, na era da guerra fria, a nova sede incorpora dois painéis de concreto do Muro de Berlim.

Também tem em exposição destroços do 107º andar de uma das torres gêmeas de Nova York, destruídas nos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 aos Estados Unidos —a única ocasião em que a aliança ativou sua cláusula de defesa coletiva.

O edifício praticamente dispensa o uso de chaves, e depende de crachás codificados para o acesso às salas para reuniões sigilosas do Conselho do Atlântico Norte, cujas paredes são adornadas por cartazes que dizem "OTAN SECRETO"; no entanto, elas não contam com proteção especial contra possíveis ataques de extremistas.

Ainda assim, em uma era de hackers e de ataques cibernéticos patrocinados por governos, a aliança ainda não está pronta para transferir seu pessoal ao novo quartel-general.

"Ainda há algumas questões de informática pendentes", disse um funcionário da Otan, que se recusou a oferecer informações adicionais porque o assunto é sigiloso.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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