Folha de S. Paulo


Procuradoria argentina pede aval para investigar executivos da Odebrecht

O procurador Federico Delgado pediu autorização aos juízes responsáveis pelo processo da Odebrecht na Argentina para investigar as ligações telefônicas dos executivos da empresa no país entre os anos de 2006 e 2015.

Delgado pretende cruzar essas informações com as obtidas por meio de depoimentos concedidos via teleconferência por delatores brasileiros, como o doleiro Leonardo Meirelles, que acusa o atual chefe de inteligência do governo de Mauricio Macri, Gustavo Arribas, de ter recebido mais de US$ 800 mil (R$ 2,6 milhões) em propinas.

eduardo anizelli/Folhapress
Sede da Odebrecht em São Paulo; procurador argentino pede aval para investigar executivos
Sede da Odebrecht em São Paulo; procurador argentino pede aval para investigar executivos

Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, a construtora brasileira teria pagado US$ 35 milhões (R$ 114 milhões) a funcionários do governo argentino durante o período sob investigação.

No próximo dia 1º de junho, a lista de nomes dos envolvidos no escândalo da Odebrecht que sejam de fora do Brasil será disponibilizada pela Justiça brasileira aos países envolvidos.

Até lá, a empresa vem tentando, na Argentina, fazer um acordo de colaboração no qual, por meio de informações e de possíveis multas, possa obter permissão para continuar atuando no país. A Justiça argentina ainda avalia essa possibilidade, mas há entraves na legislação do país para tais acordos.

Entre outras obras, vêm sendo investigadas a da linha de trem Sarmiento e a construção de uma estação de tratamento de água no rio Tigre.

Pelo período que abrange a investigação, os procuradores estimam que a maioria das propinas tenha sido paga a funcionários da gestão Cristina Kirchner (2007-2015).

Entre os nomes mencionados como suspeitos no momento estão o ex-ministro do Planejamento Julio De Vido e o ex-secretário de Transportes Ricardo Jaime.

Porém, em algumas delas, como a do trem Sarmiento, estariam envolvidas empresas que fazem ou faziam parte do grupo Macri, muito ligado à construção —como a Iecsa, que era dirigida pelo primo do atual presidente.

No caso da estação de tratamento de água, as irregularidades estão relacionadas a aditivos à obra original, que teriam sido concedidos à Odebrecht sem licitação, sob a alegação de que faziam parte da mesma obra.

A Procuradoria considera essas concessões sem licitação como ilegais.

Em seu pedido ao juiz Sebastián Casanello, Delgado pede que outras instâncias do poder Judiciário sejam envolvidas. "A magnitude do trabalho excede os limites do esforço individual. É preciso um compromisso mais intenso por parte do Estado", declarou Delgado, no texto entregue ao juiz.

Outro ator do escândalo Odebrecht na mira da Justiça argentina é o doleiro Alberto Youssef, a quem a Procuradoria espera ouvir nas próximas semanas.

Segundo o "La Nación", um depoimento de Youssef seria muito revelador porque este teria usado uma empresa de fachada argentina, a Lobogen, para simular importação de medicamentos da China. Desse modo, teria tido autorização para fazer transferências a funcionários do governo argentino.


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