Folha de S. Paulo


Na Arábia, Trump insta líderes muçulmanos a 'expulsar' terroristas

Em seu esperado discurso ao mundo islâmico, o presidente dos EUA, Donald Trump, cobrou neste domingo (21) de uma plateia de líderes de mais de 50 países de população muçulmana que o grupo assuma o compromisso de combater o terrorismo e "expulse" extremistas de suas comunidades.

"Expulsem [os extremistas] dos seus locais para oração, expulsem-nos de suas comunidades, expulsem-nos de sua terra sagrada, expulsem-nos desta Terra", disse.

Bandar al-Jaloud/Palácio Real Saudita/AFP
A handout picture provided by the Saudi Royal Palace on May 20, 2017, shows US President Donald Trump (R) holding the hand of Saudi Arabia's King Salman bin Abdulaziz al-Saud (L), as First Lady Melania Trump (background-C) looks on, as they arrive for a welcoming ceremony at the Saudi Royal Court in Riyadh. / AFP PHOTO / Saudi Royal Palace / BANDAR AL-JALOUD / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT
O rei Salman, da Arábia Saudita, e o presidente dos EUA, Donald Trump

No discurso de 33 minutos proferido em Riad ao lado do rei Salman, da Arábia Saudita, Trump não mencionou o conturbado histórico de direitos humanos desses países —a começar do país anfitrião, seu primeiro destino internacional como presidente dos EUA em uma viagem que seguirá por Israel e Europa.

Apesar da veemência, sua retórica buscou se aproximar dos muçulmanos que ele classifica como "decentes", em um aparente recuo de suas posições como candidato, quando prometia barrar os muçulmanos dos EUA (ele chegou a tentar proibir a entrada de cidadãos de sete países logo que tomou posse, mas a Justiça o impediu ).

Buscou, também, romper com o discurso proferido em 2009 no Cairo por seu antecessor, Barack Obama, frisando que o mundo encara uma "batalha entre o bem e o mal" e mantendo o termo "terrorismo islâmico", que ele usa de forma recorrente e que é considerado ofensivo.

"Esta não é uma batalha entre diferentes religiões, seitas ou civilizações. Esta é uma batalha entre criminosos bárbaros que querem destruir a vida humana e pessoas decentes de todas as religiões que querem protegê-la."

Os que esperavam que Trump estabelecesse com maior clareza sua política para a região, contudo, podem ter se frustrado. Ele afirmou que sua meta é criar uma "coalizão de nações que compartilham o objetivo de eliminar o extremismo", e pouco depois disse que os líderes presentes ali "não podem esperar que o poder americano esmague esse inimigo por elas".

"As nações do Oriente Médio terão que decidir que tipo de futuro querem para si", afirmou. "Só podemos superar esse mal se as forças do bem estiverem unidas e fortes —e se todos nesta sala compartilharem e assumirem sua parte diante deste fardo."

Trump exortou os líderes religiosos a deixarem claro a seus seguidores que "a barbárie não lhe dará a glória, que a piedade com o mal não lhe dará dignidade" e que se o fiel "escolher o caminho do terror, sua vida estará vazia, sua vida será breve e sua alma será condenada".

"Toda vez que um terrorista mata uma pessoa inocente e evoca falsamente o nome de Deus deveria ser um insulto para toda pessoa de fé."

IRÃ

No mais evidente sinal de ruptura com a política de Obama para a região, o republicano usou o discurso também para condenar o Irã.

Acusou o país inimigo dos anfitriões de fomentar o sectarismo —os iranianos seguem, em sua maioria, o ramo xiita do islã, enquanto os países vizinhos seguem o ramo sunita—, de proteger terroristas e ajudar o regime de Bashar al-Assad na Síria a cometer "crimes indescritíveis".

Em outro momento, sugeriu que não deve intervir na Síria, onde a guerra se arrasta desde 2011 e na qual os EUA atuam com uma campanha aérea contra alvos da milícia terrorista Estado Islâmico. Em abril, Trump promoveu o primeiro ataque intencional dos EUA a um alvo ligado ao regime de Assad após acusá-lo de um ataque químico contra civis, que Damasco nega.

"Seremos guiados por lições da experiência (...) Onde for possível, buscaremos reformas graduais, não intervenções súbitas", disse, numa aparente alusão à intervenção na Líbia, sob Obama, que levou à queda do ditador Muammar Gaddafi mas que não tirou o país do caos.

As comparações entre os discursos de Trump e Obama aos muçulmanos começaram antes de o republicano falar.

Obama, que pretendia estabelecer um "novo começo" nas relações e discursou para um público de universitários e ativistas, citou o Corão, o livro sagrado islâmico, e reconheceu a "dívida da civilização com o islã".

Já Trump evitou multidões, escolheu como plateia líderes de países do golfo Pérsico e da África e começou seu discurso citando os acordos comerciais fechados na véspera com a Arábia Saudita.

Ladeado por seu secretário de Estado, Rex Tillerson, e por seu genro Jared Kushner, que se tornou uma espécie de embaixador informal para a região, Trump manteve depois encontros bilaterais com líderes de Bahrein, Qatar, Omã e Kuait e com o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, a quem prometeu uma visita. O principal tema foram potenciais acordos comerciais na área de Defesa.

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Editoria de Arte/Folhapress

> Domingo (21), Riad
Reuniões bilaterais com países da região e jantar com 50 líderes de países majoritariamente islâmicos
> Segunda (22), Jerusalém
Reunião com o primeiro ministro israelense, Binyamin Netanyahu
> Terça (23), Belém
Reunião com o líder palestino Mahmoud Abbas
> Quarta (24), Vaticano/Roma
Encontro com o papa Francisco
> Quinta (25), Bruxelas
Reuniões com Emmanuel Macron, líderes da Otan e líderes da União Europeia
> Sexta (26), Taormina
Reunião do G7, na Sicília
> Sábado (27)
Discurso final e partida da Itália para Washington

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ENCONTROS

O discurso ocorreu após uma série de encontros bilaterais com líderes de países do golfo Pérsico —Bahrein, Qatar, Omã e Kuait— e com o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi.

Com o emir do Qatar, Tamim bin Hamad al Thani, o presidente americano disse que um dos temas da discussão seria a "compra de muitos equipamentos militares lindos", "porque ninguém faz esses equipamentos como os EUA". "E para nós isso significa empregos, e também significa grande segurança aqui, o que queremos", afirmou Trump.

A Sisi —que já foi recebido pelo republicano na Casa Branca—, o presidente disse que irá "em muito breve" ao Egito e elogiou seus sapatos.

Em troca, recebeu do colega egípcio —contestado em todo o mundo por seu regime autoritário— outro elogio: "Você é uma personalidade única que é capaz de fazer o impossível".

"Eu concordo", respondeu Trump, arrancando risadas dos presentes.

Em todas as conversas, além do secretário de Estado, Rex Tillerson, esteve presente o genro e assessor do presidente, Jared Kushner.

Depois, Trump participou de um encontro com os seis países do Conselho de Cooperação do Golfo —Arábia Saudita, Bahrein, Kuait, Omã, Qatar e Emirados Árabes Unidos.


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