Folha de S. Paulo


EUA impõem sanções a integrantes da Suprema Corte da Venezuela

Os Estados Unidos anunciaram nesta quinta-feira (18) sanções contra oito dos 32 membros do Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela, as primeiras desde o início da onda de protestos contra Nicolás Maduro.

As punições são reveladas horas depois que o presidente Donald Trump havia prometido medidas contra o chavista, considerado pela Casa Branca o responsável pela violência nas manifestações, que já deixaram 46 mortos.

Marco Bello/Reuters
Manifestante encapuzado atira coquetel molotov em confronto com guardas nacionais em Caracas
Manifestante encapuzado atira coquetel molotov em confronto com guardas nacionais em Caracas

Dentre os punidos pelo Departamento do Tesouro, estão o presidente da corte, Maikel Moreno, e os sete integrantes da Sala Constitucional —responsável pelas decisões que anulam os poderes da Assembleia Nacional desde 2016.

O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, atribuiu a decisão à interferência que a Suprema Corte possui em cima do Legislativo. "Os EUA apoiam o povo venezuelano em seus esforços para proteger e avançar a democracia no país."

Estas foram as segundas sanções aplicadas pelos americanos a venezuelanos desde o início do ano. Em fevereiro, o vice-presidente, Tareck el-Aissami, foi punido sob a acusação de tráfico internacional de drogas.

Além das barreiras econômicas, os EUA haviam declarado, ainda no governo do democrata Barack Obama, que o país caribenho era uma ameaça "incomum e extraordinária" à segurança nacional americana.

Em resposta, a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, chamou as sanções de "ultrajantes e inaceitáveis" e disse que os juízes "são fortemente apoiados por Maduro e vítimas do poder imperialista dos EUA".

Em encontro com o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, Trump disse que a situação da Venezuela "é uma desgraça" e declarou ser inexplicável que um país "que era tão rico chegasse nessa situação".

E emendou, sobre seu presidente, Nicolás Maduro: "a Venezuela está em más mãos, esperamos que isso mude".

PARCIALIDADE

A primeira medida tomada pelos magistrados contra a oposição foi declarar o Parlamento em desacato dias depois que os rivais de Maduro tomaram o controle da Casa devido à posse de três deputados impugnados por fraude.

A sentença praticamente anulou todas as decisões do Legislativo desde então. Dentre elas, a anistia aos opositores presos, o fim dos decretos de emergência econômica e as declarações de abandono de cargo pelo mandatário.

Por outro lado, permitiu a Maduro que aprovasse medidas sem passar pela Assembleia Nacional, como determina a Constituição. Algumas foram a lei de Orçamento, a renovação do mandato dos diretores do Conselho Nacional Eleitoral e o discurso de prestação de contas de 2017.

Em outubro os juízes dariam outro golpe à oposição ao anular parte da coleta de assinaturas para o referendo que poderia revogar o mandato de Maduro, sob a justificativa de que houve fraude nas firmas.

Isso inviabilizou a votação, já que o processo voltou à estaca zero três meses antes que o presidente completasse quatro anos no poder —a partir deste momento não seriam feitas novas eleições em caso de deposição.

Também foi o tribunal que decidiu no final de março pelo fim da imunidade parlamentar e por tomar oficialmente as atribuições do Legislativo. As sentenças desataram a onda de protestos, mas foram revertidas em 1º de abril.


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