Folha de S. Paulo


China diz que 30 mil instituições foram afetadas por ciberataque

Kirill Kudryavstsev/AFP
Parede de vidro na sede da empresa de segurança Kaspersky, na Rússia
Parede de vidro na sede da empresa de segurança Kaspersky, na Rússia

Centenas de milhares de computadores e quase 30 mil instituições, incluindo agências governamentais, foram afetados na China pelo ciberataque global de sexta-feira (12), segundo uma empresa de referência em cibersegurança do gigante asiático.

Nesta segunda, com bilhões de computadores voltando a ser utilizados, há o temor de um retorno dos ciberataques, que afetaram cerca de 200 mil usuários em pelo menos 150 países.

O temor era maior na Ásia, onde na sexta-feira, no horário do ataque, a atividade econômica já havia encerrado o horário comercial.

Na Europa, o temor de uma nova onda de disseminação do vírus nesta segunda-feira não se concretizou.

"O número de vítimas parece não ter aumentado e a situação parece estável na Europa", disse à agência de notícias AFP o porta-voz da Europol, Jan Op Gen Oorth. "Ainda é cedo para dizer quem está por trás de tudo isso, mas estamos trabalhando em uma ferramenta de decodificação."

Ciberataque no mundo
Vírus se aproveitou de falhas no Windows

Centenas de milhares de computadores em todo o planeta, sobretudo na Europa, estão infectados desde sexta-feira por um vírus do tipo "ransomware" que explora uma falha nos sistemas operacionais Windows, conhecido e explorado pelos serviços de espionagem americanos e que se tornou conhecido quando foram publicados documentos secretos da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, a NSA.

O vírus, chamado "Wannacry", bloqueia arquivos dos usuários e exige o pagamento de uma quantia em bitcoins, a moeda virtual, difícil de rastrear, caso desejem recuperar o acesso.

Nenhum grupo reivindicou a ação, que é tratada como criminosa. Não há, por ora, suspeitas de que um governo esteja envolvido.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta segunda-feira que seu país "não tem absolutamente nada a ver com o vírus" disseminado na semana passada. Ele lembrou que os hackers utilizaram ferramentas de espionagem dos serviços de inteligência americanos vazadas recentemente.

Os Estados Unidos e países europeus suspeitam que o Kremlin esteja por trás de ataques cibernéticos para influenciar disputas eleitorais; o governo russo nega.

No Brasil, o vírus infectou computadores do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo na sexta-feira. Servidores do Itamaraty sofreram uma tentativa de invasão e a Petrobras orientou seus funcionários a reiniciar os computadores.

ATAQUE SEM PRECEDENTES

"Nunca havíamos visto nada assim", admitiu no domingo o diretor da Europol, Rob Wainwright, em uma entrevista ao canal britânico ITV.

A Microsoft advertiu no domingo os governos a respeito do acúmulo de vulnerabilidades em computadores.

"Os governos do mundo devem tratar este ataque como um alerta", escreveu o presidente e diretor jurídico da Microsoft, Brad Smith, em um blog.

Tuíte

Smith alertou para o perigo de que documentos com informações sensíveis de governos –como a lista da NSA (Agência de Segurança Nacional) nos Estados Unidos– acabem caindo nas mãos de hackers e provoquem danos generalizados, como está acontecendo com o atual ataque.

"Um cenário equivalente com armas convencionais seria o exército dos EUA terem seus mísseis Tomahawk roubados", afirmou Smith.

A falha de segurança se concentra no sistema operacional Microsoft Windows XP, uma versão antiga que já não recebia suporte técnico da empresa americana.

O vírus se propagou rapidamente porque os responsáveis pelo ataque usaram um código digital que, ao que parece, teria sido desenvolvido pela NSA e foi vazado por documentos alvos de hackers, segundo a empresa de segurança virtual Kaspersky Lab, que tem sede em Moscou.

Diante da magnitude do ciberataque, a Microsoft reativou uma atualização em grande escala para ajudar os usuários das versões do Windows que não contavam mais com suporte técnico da empresa.

Smith argumentou que os governos deveriam aplicar no ciberespaços regras como as que vigoram para as armas no mundo físico.


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