Folha de S. Paulo


Em tom de ameaça, Trump sugere ter gravado fala com ex-chefe do FBI

O presidente dos EUA, Donald Trump, sugeriu nesta sexta-feira (12) no Twitter que pode ter gravado suas conversas com o ex-diretor do FBI (polícia federal americana), James Comey, e fez um "alerta" em tom de ameaça para que Comey pense nisso antes de vazar informações.

"É melhor James Comey torcer para que não haja 'gravações' de nossas conversas antes que ele comece a fazer vazamentos para a imprensa!", escreveu Trump.

Chip Somodevilla/Getty Images/AFP
O presidente dos EUA, Donald Trump, participa de evento às mães de militares em Washington
O presidente dos EUA, Donald Trump, participa de evento às mães de militares em Washington

A mensagem foi uma aparente reação a uma reportagem do "New York Times" na véspera, com detalhes sobre um jantar, em 27 de janeiro, em que Trump teria pedido a "lealdade" de Comey. Em resposta, o então diretor do FBI teria prometido ao presidente apenas "honestidade".

Nesta sexta, o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, se esquivou de todas as perguntas sobre se Trump havia gravado sua conversa no jantar com Comey com a frase "o presidente não tem nada mais a falar sobre isso".

Spicer ainda negou que Trump tenha, com sua mensagem, tentado intimidar o ex-diretor para que não fale mais sobre a conversa. "Não acho...não foi uma ameaça. Ele simplesmente fez uma constatação. O tuíte fala por si só", disse o porta-voz.

Horas depois, no entanto, deputados democratas enviaram uma carta à Casa Branca exigindo que o presidente esclareça se há gravações das conversas entre Comey e Trump —e, que se houver, as entregue ao Congresso.

"Por causa de tantas declarações falsas dadas por funcionários da Casa Branca nesta semana, somos compelidos a questionar se essas gravações de fato existem", escreveram os deputados.

Os parlamentares também pediram "todos os documentos, memorandos, análises, e-mails e comunicações relacionadas à decisão do presidente de demitir Comey", e disseram ser um "crime intimidar ou ameaçar qualquer testemunha em potencial".

Após a mensagem de Trump, Comey disse aos senadores que não poderá comparecer a uma audiência na Comissão de Inteligência do Senado na terça (16).

A sugestão de que Trump teria gravado a conversa logo levou à comparação com a decisão de Richard Nixon de instalar um sistema de gravação no Salão Oval.

A revelação sobre a existência das fitas com conversas privadas acabaram levando à queda de Nixon, em meio ao escândalo do Watergate.

Ainda nesta sexta, Trump condenou as críticas da imprensa sobre o choque de versões da Casa Branca sobre a demissão de Comey.

"Talvez o melhor saída seria cancelar todas as 'entrevistas coletivas' futuras e entregar respostas por escrito para primar pela precisão??"

Segundo a Casa Branca, Comey foi demitido por ter "errado" ao não recomendar o indiciamento, em 2016, da ex-secretária de Estado Hillary Clinton pelo uso de uma conta de e-mail privada.

O diretor, porém, estava à frente das investigações sobre o possível elo dos membros da equipe de Trump com a Rússia na campanha eleitoral —e o próprio presidente já deu sinais que esse pode ter sido o real motivo.

Em entrevista à NBC, Trump disse ter pensado "na questão russa" enquanto decidia pela saída do diretor.

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