Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Demissão de chefe do FBI deve levar Trump a nova turbulência

A Casa Branca demitiu o diretor do FBI, que conduzia uma investigação sobre a própria Casa Branca. A decisão, bombástica, recoloca em cena o fantasma autocrático de Donald Trump, que atravessou a linha que separa seus interesses dos interesses públicos.

O FBI está fechando o cerco sobre as relações de assessores de campanha do republicano com a Rússia, em operação montada, ao que tudo indica, para desfavorecer a então candidata democrata, Hillary Clinton.

Mandel Ngan - 4.mai.2017/AFP
O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa nos jardins da Casa Branca na última quinta-feira (4)
O presidente dos EUA, Donald Trump, discursa nos jardins da Casa Branca na última quinta-feira (4)

O secretário da Justiça, Jeff Sessions, que recomendou a demissão de Comey, é suspeito de ligação com representantes do governo russo —numa decisão que causou fortes reações, ele declarou-se excluído do processo. Não é improvável a hipótese de que as apurações venham a chegar ao próprio presidente.

O caso das relações entre a campanha republicana e representantes russos esquentou nos últimos dias com as revelações de que o presidente Barack Obama e sua secretária de Justiça, Sally Yates, alertaram Trump, após a eleição, para não colocar Michael Flynn no governo.

Escolhido como conselheiro de Segurança, Flynn viu-se forçado a deixar o governo após mentir sobre contatos com o embaixador da Rússia.

Trump talvez tenha imaginado que demitir Comey no momento em que o diretor do FBI admitia ter errado no inquérito sobre os e-mails de Hillary Clinton pudesse minimizar o impacto da decisão.

Se imaginou, errou.

A reação da oposição democrata e da maioria dos analistas foi de incredulidade diante do que muitos consideraram como uma agressão aos princípios da democracia.

Não parece ser, de fato, uma decisão que respeite os contrapesos democráticos um presidente simplesmente mandar embora o diretor da polícia federal que potencialmente o investiga.

Os desdobramentos do caso anunciam semanas de turbulências. Quem será o novo diretor do FBI? Haverá alguma interferência sobre a investigação? Os Estados Unidos estão se transformando numa República de bananas?


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