Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Com 'banco de tempo', debate francês permitiu violência verbal

Eric Fefeberg/Reuters
Marine Le Pen e Emmanuel Macron antes do debate na TV
Marine Le Pen e Emmanuel Macron antes do debate na TV

O formato de debate usado nesta quarta-feira (3) na eleição francesa, com contagem de tempo, já foi proposto no Brasil em 2014, por Folha e outros veículos, mas as campanhas presidenciais do PT e do PSDB não aceitaram.

Nesse tipo de debate, tradicional na França, cada candidato começa com um saldo de minutos para falar, que vai sendo descontado ao longo do programa até chegar a zero –como em jogos oficiais de xadrez, por exemplo.

Pelo que se assistiu no programa francês, em que Emmanuel Macron e sobretudo Marine Le Pen apelaram a ataques furiosos e afirmações questionáveis, também o formato com banco de minutos tem os seus limites.

Foi ele que deu redéas largas para a violência verbal de Le Pen, que começou a falar antes e estabeleceu o tom ofensivo já nos primeiros minutos, com uma série de afrontas e rotulações sarcásticas contra o favorito Macron.

Os mediadores Christophe Jakubyszyn, da rede TF1, e Nathalie Saint-Cricq, da France 2, ao tentar conter as agressões, envolveram-se eles próprios no bate-boca. O efeito foi deixar parte do debate ininteligível.

A qualidade maior do formato é que ele dá liberdade aos candidatos, tanto para se concentrarem em alguns temas como para não serem interrompidos de forma artificial, um problema dos engessados debates no Brasil.

Mas o que se viu na França foram interrupções constantes, de um candidato por outro e de ambos pelos mediadores, como na ordem cômica de Saint-Cricq, a certa altura: "Arrêtez tous les deux!", parem os dois.

Se fosse apenas esse o problema, não haveria grande novidade. Debates em ambiente polarizado, como mostraram Dilma Rousseff e Aécio Neves naquele ano de 2014, tendem a ser assim em diferentes formatos.

Mas a barafunda que tomou conta do programa na França facilitou também a disseminação, sobretudo por Le Pen, de afirmações questionáveis ou abertamente falsas, "fake news", que assustam mais do que a violência verbal.


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