Folha de S. Paulo


Ocultar investigação sobre e-mails de Hillary teria sido pior, diz chefe do FBI

O diretor do FBI, James Comey, disse nesta quarta-feira sentir "náuseas" ao pensar que possa ter influenciado as eleições americanas do ano passado ao anunciar dias antes da votação que reabrira a investigação sobre o caso dos e-mails de Hillary Clinton.

Ocultar a decisão, porém poderia ter sido muito pior, afirmou em audiência do Comitê Judicial do Senado.

"Sinto náuseas em pensar que pudemos ter tido um impacto na eleição, mas, honestamente, isso não muda minha decisão", disse. "[Mas] Eu não posso considerar por um segundo qual político será afetado e de que maneira. Temos de nos perguntar qual é a coisa certa a fazer e depois fazer."

Joshua Roberts/Reuters
James Comey (FBI) em audiência no Comitê de Inteligência da Câmara, em Washington, sobre a suposta intromissão russa nas eleições
James Comey (FBI) em audiência sobre a suposta intromissão russa na eleição

A declaração foi feita após Hillary Clinton citar, na terça (2), as ações do FBI como um dos motivos de sua derrota para Donald Trump.

No dia 28 de outubro, uma semana e meia antes das eleições, Comey anunciou a abertura de novas investigações sobre o uso indevido de um servidor de e-mails privado por Hillary no período em que ela foi Secretária de Estado.

"Eu estava no caminho da vitória até que uma combinação da carta de Comey [sobre as investigações], no dia 28 de outubro, e do 'Wikileaks russo' [a suposta interferência de hackers que vazaram e-mails privados da campanha] levantaram dúvidas em pessoas que estavam inclinadas a votar em mim", disse a democrata na quarta-feira (2).

A divulgação das mensagens de seu chefe de campanha John Podesta, que teriam sido obtidas pelos supostos hackers, revelaram trechos de palestras ministradas pela candidata a bancos, com opiniões favoráveis ao mercado financeiro e ao livre comércio, em contraste com o discurso dela na campanha.

Reuters
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AUDIÊNCIA

Na audiência, o diretor do FBI disse que enfrentou decisões difíceis quando os agentes lhe disseram, em outubro, em outubro, ter encontrado e-mails potencialmente conectados ao caso de Clinton em um laptop pertencente ao ex-deputado Anthony Weiner, que se separou no ano passado da assessora da democrata Huma Abedin.

Comey afirmou que sabia que não era algo ortodoxo alertar o Congresso sobre essa descoberta 11 dias antes da eleição. Mas disse ter avaliado que seria "catastrófico" ficar em silêncio, especialmente porque ele havia testemunhado sob juramento que a investigação havia sido concluída e tinha prometido aconselhar os legisladores se fosse necessário reabrir o caso.

O FBI obteve um mandado para pesquisar o laptop de Weiner, em meio a uma investigação de um escândalo sexual, e pesquisou milhares de e-mails, disse Comey, incluindo alguns com informações confidenciais que haviam sido enviadas pela ex-assessora de Hillary para serem impressos.

Embora as autoridades tenham encontrado muitos e-mails novos, não havia nada para mudar a decisão do FBI de julho de não recomendar acusações, disse Comey.

Questionado pelo senador democrata Patrick Leahy, ele também refutou ter tratado de forma diferente a investigação sobre Hillary e as potenciais conexões entre a campanha de Trump e a Rússia.

O FBI deu início em julho do ano passado a uma investigação sobre o tema, mas o fato só foi revelado em março, após a posse do presidente.


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