Folha de S. Paulo


Turquia demite 4.000 servidores, veta atrações de TV e bloqueia a Wikipedia

A Turquia demitiu neste sábado (29) quase 4.000 funcionários públicos, anunciou o fim dos programas de amizade e namoro na televisão e bloqueou o acesso à Wikipedia.

Entre os servidores demitidos, 1.000 são do Ministério da Justiça e mais de 1.000 trabalhavam para o Exército. Há ainda 500 professores e acadêmicos na lista.

Há três dias, o governo do presidente Recep Tayyip Erdogan já havia anunciado a detenção de 1.000 pessoas e a suspensão de mais de 9.100 policiais, sob suspeita de ligação com o clérigo dissidente Fethullah Gülen.

O religioso é acusado de ter orquestrado uma tentativa de golpe de Estado em julho de 2016 –ele nega. Desde então, o país vive em estado de emergência.

Murat Cetinmuhurdar/Palácio Presidencial/Reuters
urkish President Tayyip Erdogan poses with children during a ceremony to mark the National Sovereignty and Children's Day at the Presidential Palace in Ankara, Turkey, April 23, 2017. Murat Cetinmuhurdar/Presidential Palace/Handout via REUTERS ATTENTION EDITORS - THIS PICTURE WAS PROVIDED BY A THIRD PARTY. FOR EDITORIAL USE ONLY. NO RESALES. NO ARCHIVE. ORG XMIT: TUR02
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que sofreu tentativa de golpe em 2016

O estado de emergência foi usado como justificativa para outro decreto publicado neste sábado (29), que proibiu a transmissão de programas em que pessoas, em sua maioria jovens, buscam amizades ou relacionamentos amorosos.

O vice-primeiro-ministro, Numan Kurtulmus, já havia anunciado em março que o governo preparava essa proibição por motivos morais. "Há alguns programas raros que prejudicam a instituição da família e acabam com sua nobreza e santidade", disse.

As medidas ocorrem duas semanas após os turcos aprovarem em plebiscito a ampliação dos poderes do presidente Erdogan.

WIKIPEDIA

Também neste sábado (29), o país bloqueou a enciclopédia colaborativa on-line Wikipedia, citando uma lei que permite proibir o acesso a sites considerados obscenos ou ameaças à segurança nacional.

"Após análise técnica e consideração legal, uma medida administrativa foi tomada para esse site", disse o BTK, órgão regulador das telecomunicações no país

O bloqueio aumenta a apreensão de grupos de direitos civis da Turquia, para quem Ancara vem restringindo a liberdade de expressão desde a tentativa de golpe em 2016.

O BTK citou uma lei que permite o bloqueio de páginas ou portais para a proteção da ordem pública, segurança nacional ou bem-estar do público.

Segundo a agência estatal Anadolu, o Ministério da Comunicação da Turquia afirmou que a Wikipedia, ao invés de "agir contra o terrorismo", tenta fazer uma campanha de difamação contra a Turquia, ao dizer em alguns artigos que Ancara agia em associação com grupos militantes.

O veto pode ser revisto se a Wikipedia reavaliar os pedidos do governo, disse a agência Anadolu.

Pela legislação turca, o órgão regulador é obrigado a submeter o bloqueio a um tribunal em 24 horas. A corte, então, tem dois dias para decidir sobre o tema.

O bloqueio foi detectado na manhã deste sábado. Quando tentavam acessar a Wikipedia de provedores turcos, usuários recebiam a mensagem de que o site não podia ser encontrado.

UPPA/Xinhua
(150617) -- MADRID, junio 17, 2015 (Xinhua) -- Imagen sin ubicación del 13 de junio de 2007, del sitio web de Wikipedia. Wikipedia, uno de los diez sitios más visitados por Internet, obtuvo el miércoles el Premio Princesa de Asturias de Cooperación 2015, tras el fallo del jurado en Oviedo en el que reconoció su trabajo y su crecimiento al ser la enciclopedia libre de Internet más visitada del mundo. (Xinhua/UPPA/ZUMAPRESS) (fnc) (ah) ***DERECHOS DE USO UNICAMENTE PARA NORTE Y SUDAMERICA***
Wikipedia, enciclopédia colaborativa online

Grupos de monitoramento já haviam acusado a Turquia de fazer bloqueios pontuais em redes sociais como Twitter ou o Facebook. As afirmações eram negadas pelo governo, que atribuía as interrupções a picos de uso.

Desde a tentativa de golpe, autoridades suspenderam mais de 120 mil pessoas do serviço público e prendeu mais de 40 mil.

O país também prendeu 81 jornalistas, tornando-se o recordista em detenções da categoria, de acordo com o CPJ (Committee to Protect Journalists).


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