Folha de S. Paulo


Em visita ao Egito, papa condena violência cometida 'em nome de Deus'

Em seu primeiro dia de visita ao Egito, o papa Francisco condenou nesta sexta-feira (28) o que chamou de "populismo demagógico" e pediu o apoio de líderes muçulmanos para combater todas as formas de extremismo religioso que defendam a violência em nome de Deus.

O pontífice chegou ao país do norte da África menos de três semanas após os ataques mais violentos contra cristãos coptas nos últimos anos, quando duas bombas mataram mais de 45 pessoas em igrejas no norte do Egito.

Osservatore Romano/Reuters
Papa Francisco (à esq.) participa de cerimônia com o papa da Igreja Ortodoxa copta, Tawadros 2º, no Cairo
Papa Francisco participa de cerimônia com o líder da Igreja Ortodoxa copta, Tawadros 2º, no Cairo

Sua visita coincide com um momento de tensão crescente entre a minoria cristã (cerca de 10% da população de mais de 90 milhões de egípcios) e a maioria muçulmana. Desde o ano passado, a facção terrorista Estado Islâmico visa os cristãos como seu alvo preferencial no país.

Francisco defendeu mais atenção à educação básica dos jovens, a fim de evitar que eles sejam seduzidos por mensagens extremistas —a seu ver, esse é "o melhor caminho para construirmos um futuro de civilidade juntos".

Discursando ao lado do grande imã do Cairo, xeque Ahmed el-Tayeb, afirmou que cabe aos líderes religiosos cristãos e muçulmanos combater todas as formas de violência e extremismo sectário.

"Devemos desmascarar a violência que se esconde em formas falsas de santidade, devemos dizer um basta a toda forma extremismo feito em nome da religião e de Deus."

O discurso, carregado de simbolismo, teve lugar no mais importante e antigo centro de educação religiosa dos muçulmanos sunitas, a Universidade al-Azhar, criada no século 10 e até hoje influente em todo o Oriente Médio.

Já o xeque Tayeb voltou a defender que o islã é uma religião de paz e a condenar os ataques aos cristãos, afirmando que os extremistas têm uma interpretação equivocada do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos.

Na plateia, religiosos coptas, católicos e islâmicos escolhidos cuidadosamente ovacionaram os dois líderes. "Este momento é de festejar, precisamos caminhar juntos para acabar com os terroristas", disse Muhamad Saleh, 19, um dos alunos da Al Azhar escolhidos para a plateia.

A visita de Francisco ao Egito tem caráter distinto daquela realizada por João Paulo 2º em 2000. Desta vez as ruas estavam vazias, a não ser pelos soldados fortemente armados e agentes de segurança do serviço secreto egípcio que passaram o dia sob o sol.

Por medo de novos atentados, o governo egípcio proibiu que qualquer pessoa se aproximasse das ruas escolhidas para o papa trafegar no Cairo. Carros estacionados nessas vias foram guinchados na madrugada e várias regiões da capital foram completamente bloqueadas.

ABERTURA

Francisco chegou ao Cairo no início da tarde desta sexta e se reuniu com o presidente Abdel Fattah al-Sisi, de quem cobrou mais abertura e atenção aos direitos humanos. Sisi tomou o poder em um golpe de Estado em 2013 e é criticado por prender detratores e coibir a expressão.

No fim do dia, o líder católico romano se encontrou com o papa Tawadros 2º, chefe da Igreja Ortodoxa Copta. Os dois rezaram na Catedral do Cairo, onde no final do ano passado um atentado a bomba matou mais de 20 cristãos.

Neste sábado (29), antes de voltar para o Vaticano, Francisco celebrará uma missa ao ar livre em um estádio militar.

Mas, sob o forte esquema de segurança e diferentemente do que ocorreu na visita de João Paulo 2º, que atraiu longas filas de egípcios muçulmanos e cristãos, o evento será apenas para convidados.


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