Folha de S. Paulo


EUA, México e Canadá aceitam rever seu maior acordo comercial

Um dia após reportagens da imprensa americana afirmarem que o presidente Donald Trump estaria preparando a saída dos Estados Unidos do Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte), o republicano afirmou que aceita renegociar o tratado em vez de abandoná-lo.

Trump disse nesta quinta-feira (27) na Casa Branca que de fato vinha avaliando a possibilidade de abandonar o pacto, mas que chegou à conclusão de que fazê-lo agora "seria um choque muito grande para o sistema".

Carlos Barria/Reuters
O presidente dos EUA, Donald Trump, posa no Salão Oval da Casa Branca antes de entrevista à Reuters
O presidente Donald Trump posa no Salão Oval da Casa Branca antes de entrevista à Reuters

Mais cedo, o presidente havia dito em um de seus canais oficiais que recebeu ligações do presidente do México, Enrique Peña Nieto, e do premiê do Canadá, Justin Trudeau, pedindo a ele que renegociasse os termos do acordo.

"Eu concordei, com a condição de que se não chegarmos a um acordo justo para todos, nós sairemos do Nafta", escreveu o republicano, afirmando ainda que as "relações são boas" e que um "acordo é muito possível".

Segundo a Casa Branca, "o presidente Trump concordou em não abandonar o Nafta neste momento, e os líderes concordaram em agir rapidamente, segundo os procedimentos internos necessários, para possibilitar a renegociação do acordo do Nafta em benefício dos três países".

Canadá e México reagiram com alívio a desistência de Trump de abandonar o acordo por ora. Trudeau disse que o fim do pacto "causaria muitos problemas no curto e médio prazos". O chanceler mexicano, Luis Videgaray, declarou que a ruptura americana "era uma possibilidade real".

Em telefonema, os líderes canadense e mexicano concordaram que a renegociação "é uma oportunidade de atualizar o acordo de livre comércio para beneficiar a todos".

PALANQUE

Sinalizando estar disposto a endurecer as relações comerciais com os países vizinhos, o governo Trump anunciou na terça (25) tarifas sobre a madeira canadense, irritando a nação fronteiriça.

Desde a campanha eleitoral, no ano passado, Trump classifica o Nafta como "o pior acordo de comércio" já assinado pelos EUA. "Ou renegociamos o acordo ou o rompemos", prometeu à época.

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COMÉRCIO DOS EUA COM PAÍSES DO NAFTA - Em US$ bilhões

COMÉRCIO DOS EUA COM PAÍSES DO NAFTA - Balança comercial

Principais produtos exportados pelos EUA

Ao México
> Peças de veículos
> Produtos de petróleo
> Equipamentos de computador
> Semicondutores
> Produtos químicos básicos

Ao Canadá
> Veículos
> Peças de veículos
> Petróleo e gás
> Produtos de petróleo
> Máquinas agrícolas e para construção

Principais produtos importados pelos EUA

Ao México
> Veículos
> Peças de veículos
> Petróleo e gás
> Equipamentos de computador
> Equipamento de áudio e vídeo

Ao Canadá
> Petróleo e gás
> Veículos
> Produtos de petróleo e carvão
> Peças de veículos
> Metais não-ferrosos

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O republicano, que já tirou os EUA da Parceria Transpacífico, assinada com 11 países por Barack Obama, atribui ao livre comércio o aumento do desemprego por transferir a produção industrial a países com mão de obra mais barata, como o México.

Em entrevista à agência de notícias Reuters, Trump anunciou que o próximo a ser renegociado será o com a Coreia do Sul, que chamou de "horrível". E disse que vai fazer Seul pagar pelo sistema antimísseis que está instalando, avaliado em US$ 1 bilhão.

A posição sobre o Nafta contradiz o ideário de seu partido. Logo após a posse, Trump anunciou a renegociação. No último mês, porém, as discussões esfriaram.

A ausência de uma definição sobre o futuro do Nafta poderia ser interpretada pelos eleitores de Trump como uma dificuldade em cumprir promessas de campanha.

Ele, que completa cem dias no cargo neste fim de semana, tem enfrentado barreiras na Justiça e no Congresso para aprovar medidas de imigração, saúde e segurança, o que desgastou sua imagem.

Pesquisas indicam que Trump é o presidente americano com a pior aprovação para os três primeiros meses de mandato (40% na aferição mais recente do Gallup).

O Nafta entrou em vigor em 1994, num período em que a formação de blocos de livre comércio era uma tendência internacional. O objetivo do acordo é reduzir ou eliminar barreiras alfandegárias entre EUA, México e Canadá.

O grupo também tem pactos com países como o Chile, que usufruem de vantagens no acesso a esses mercados.


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