Folha de S. Paulo


Após três meses de férias, Barack Obama volta à cena pública nos EUA

"O que andou acontecendo enquanto estive fora?", brincou Barack Obama nesta segunda (24) ao juntar-se a uma roda de seis jovens ativistas, na Universidade de Chicago, para conversar sobre organização comunitária e engajamento cívico.

Foi a primeira aparição pública do ex-presidente desde janeiro. Ele e a mulher, Michelle, passaram férias na Polinésia Francesa, com direito a passeios no iate de David Geffen, magnata da indústria de entretenimento e filantropo, em companhia de Tom Hanks, Bruce Springsteen e Oprah Winfrey.

Zbigniew Bzdak/TNS/ZUMAPRESS/Xinhua
O ex-presidente dos EUA Barack Obama reaparece em diálogo com estudantes em Chicago
O ex-presidente dos EUA Barack Obama reaparece em diálogo com estudantes em Chicago

Obama manteve a promessa de não comentar assuntos diretamente ligados ao governo de Donald Trump —embora sua simples volta à ribalta seja um ato político. Livre do peso da Presidência, mostrou-se à vontade no exercício seus dons retóricos e de seu senso de humor para seduzir a audiência com temas previsíveis da agenda progressista.

Obama falou sobre a presença do dinheiro na política, a abstenção nas eleições, a politização da mídia e as distorções que vê no sistema eleitoral. Também mencionou suas preocupações com a mudança climática, a Justiça e as grandes transformações econômicas.

A reaparição aconteceu na semana em que Trump está sob escrutínio da mídia por causa da aproximação dos seus cem dias de governo, que serão completados no sábado (29). Pesquisas indicam que ele será o presidente com a pior avaliação nos cem dias —e a presença sorridente de Obama na mídia não deixa de ser mais um incômodo.

O ex-presidente voltou à cena em Chicago, onde começou sua carreira como ativista na área do South Side, marcada por desigualdades e pela diversidade racial. Foi lá que conheceu sua mulher e criou suas filhas. E é lá que quer abrir a sede da Fundação Obama, definida como uma "start up da cidadania".

A organização sem fins lucrativos recebe doações e é administrada por voluntários, entre os quais Martin Nesbitt, tesoureiro das duas campanhas presidenciais e fundador da empresa de "private equity" The Vistria Group, e o investidor da área de capital de risco John Doerr, que dirige o fundo Kleiner Perkins Caufield & Byers, do Vale do Silício.

O evento em Chicago foi o primeiro de uma série programada para os próximos dias nos EUA e na Europa. Além de aparições voluntárias, Obama fará palestras pagas, como é comum entre ex-presidentes dos EUA.

No início do ano, ele e Michelle assinaram um contrato com a editora Penguin Random House (que no Brasil é sócia da Companhia das Letras) para um livro sobre o período em que viveram na Casa Branca. Segundo divulgou o jornal britânico "The Guardian", sem confirmação oficial, o acordo giraria em torno de US$ 60 milhões (R$ 188 milhões). O casal doaria parte dessa soma para ações de caridade.

"Tenho pensado muito sobre a coisa mais importante que eu poderia fazer como meu próximo trabalho", disse Obama durante a conversa. "Eu me importo com muitas questões, com as quais pretendo trabalhar, mas a coisa mais importante que posso fazer é, de alguma maneira, ajudar a preparar a próxima geração de líderes a pegar o bastão."

O ex-presidente lamentou a polarização ideológica nos veículos de comunicação e redes sociais, que dificultaria "um debate saudável" para encontrar soluções.

Deplorou também a decadência de organizações comunitárias como o Rotary Club: "Isso significa que as pessoas não têm mais os mesmos hábitos de estarem juntas num projeto comum. Somos uma sociedade mais individualista", avaliou.


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