Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Primeira-ministra britânica antecipa pleito para ampliar poder

A primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou nesta terça-feira (18) a convocação de eleições antecipadas para o dia 8 de junho. Ela quer transformar em maioria parlamentar a ampla margem de apoio que tem hoje na opinião pública, em vez de esperar uma vitória incerta na eleição regular prevista para 2020.

Em um discurso surpreendente, May disse que precisa de um apoio político mais claro para negociar a saída do país da União Europeia. O governo iniciou no final de março o processo chamado de "brexit" mas a opinião pública está dividida sobre a forma como ele deve acontecer.

Christopher Furlong/AFP
Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, assina carta que dEU início ao
Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, assina carta que dEU início ao "brexit"

Neste momento, os conservadores aparecem nas pesquisas com até 20 pontos de vantagem sobre a oposição (Trabalhista e Liberal-Democrata), mais do que na eleição passada, em 2015, quando o partido obteve apenas cinco cadeiras a mais que a metade do Parlamento. Como alguns conservadores são favoráveis a permanência na Europa, a atual base de apoio do governo se torna muito frágil, com negociações de muitas questões caso a caso.

As eleições nacionais estavam previstas para 2020. Até lá, o país deverá atravessar negociações duras com a Europa e poderá sofrer perdas econômicas decorrentes da separação. Londres teme perder muitos empregos na área financeira com empresas mudando suas sedes para países continentais. Nesse cenário, a popularidade da primeira-ministra tenderia a cair muito em dois anos.

Por isso, depois de negar a convocação de eleições várias vezes nas últimas semanas, a primeira-ministra mudou e aceitou a ideia defendida por vários de seus companheiros favoráveis ao "brexit": transformar o grande apoio popular em votos e obter uma maioria parlamentar sólida. Para serem eleitos, os deputados conservadores terão que se comprometer com a plataforma defendida por Theresa May, consolidando o partido em torno de um bom acordo para "brexit".

O anúncio pegou de surpresa políticos britânicos e europeus. O líder Trabalhista, de oposição, Jeremy Corbyn, que sofre de grande impopularidade, saudou a decisão. O antecessor de Theresa May, David Cameron, também conservador, mas que renunciou quando foi derrotado no plebiscito (ele defendia a permanência na Europa), também elogiou o anúncio. A libra teve uma ligeira valorização, sugerindo que o mercado financeiro gostou da decisão.

Se tudo acontecer como prevê o roteiro desejado por May, mais provável, em cerca de 50 dias ela será reeleita e terá uma das maiores bases de apoio de um governo britânico dede 1997, quando os Trabalhistas tiveram uma grande vitória sob a liderança de Tony Blair. Depois de alguns meses como uma primeira-ministra fraca, que não foi eleita para o cargo, a Inglaterra pode ter a partir de junho uma nova "dama de ferro", como foi Margaret Thatcher nos anos 1980.

Na oposição, a eleição deve marcar mais uma derrota trabalhista, com o afastamento de Corbyn, e pode ver o crescimento dos liberais-democratas nas áreas contra o "brexit", como Londres, porque esse partido teve uma posição mais clara desde o plebiscito. O tradicional bipartidarismo inglês está ameaçado.


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