Folha de S. Paulo


Líder paraguaio coleciona acusações de conflito de interesses

Jorge Adorno - 05.abr.2017/Reuters
O presidente paraguaio, Horacio Cartes, durante reunião sobre emenda da reeleição nesta quarta (5)
O presidente paraguaio, Horacio Cartes

O presidente do Paraguai, Horacio Cartes, coleciona uma série de controvérsias ao longo de sua trajetória como empresário e político.

Nesta segunda (17), após o acirramento da crise política no país, ele anunciou que não buscará um novo mandato nas eleições do ano que vem.

Apesar disso, líderes do governista Partido Colorado afirmaram que seguirão tentando aprovar no Congresso um controverso projeto de emenda à Constituição que abriria caminho para a reeleição por meio de plebiscito.

A oposição reagiu ao anúncio com cautela. O presidente já havia afirmado em outras ocasiões que não buscaria um novo mandato, mas isso não impediu que seu governo tentasse legalizar a reeleição.

A tentativa de alterar a Constituição para permitir a reeleição não é a única polêmica em que Cartes, 60, se envolveu nos últimos anos.

Magnata da indústria do tabaco e do sistema bancário, o presidente nomeou funcionários de seu conglomerado para cargos oficiais, sendo acusado de conflitos entre interesses públicos e privados.

CONTRABANDO

Cartes é fundador e maior acionista da Tabacalera del Este, principal produtora de cigarros do Paraguai. Suas marcas são encontradas em carregamentos de contrabando apreendidos em diversos países, inclusive no Brasil.

Além disso, o empresário coleciona várias acusações. Nos anos 1980, o ele foi preso por evasão de divisas e, em 2011, o Wikileaks revelou que os EUA investigavam suas relações com um esquema internacional de narcotráfico e lavagem de dinheiro.

Para concorrer à Presidência, o empresário precisou convencer líderes do Partido Colorado a mudar o estatuto da sigla, derrubando a regra que exigia de eventuais candidatos ao menos dez anos de militância pela legenda.

Com Cartes, o Partido Colorado conseguiu retornar em 2013 à Presidência, da qual estava afastado desde 2008. Antes disso, a sigla governou o Paraguai por 61 anos ininterruptos, incluindo o período da ditadura do general Alfredo Stroessner (1954-89).

"Os antecedentes do presidente não contribuem para gerar uma sensação de tranquilidade", diz à Folha o jornalista e biógrafo do presidente, Chiqui Ávalos.

"As vantagens de Cartes e seus amigos, todos unidos por uma trama de favorecimentos, licitações arranjadas e até mesmo delitos, requer continuidade. (...) Cartes precisa seguir na Presidência como uma espécie de blindagem", completa.

Cartes nega quaisquer irregularidades. Procurado pela Folha por meio de sua assessoria, o presidente recusou conceder entrevistas.


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