Folha de S. Paulo


Procuradores do Chile apuram doação da OAS a presidenciáveis em 2013

O Ministério Público do Chile aprofundou as investigações no país sobre o suposto repasse de dinheiro da empreiteira brasileira OAS, via caixa 2, para a campanha presidencial de Marco Enríquez-Ominami, candidato derrotado pela presidente chilena Michelle Bachelet em 2013.

As autoridades também apuram se a empresa investiu na campanha de Bachelet. No Chile, é proibido que candidatos recebam doações de empresas estrangeiras.

Claudio Reyes - 17.nov.2013/AFP
Marco Enríquez-Ominami faz gesto antes de votar na eleição de 2013, na qual foi candidato presidencial
Marco Enríquez-Ominami faz gesto antes de votar na eleição de 2013, na qual foi candidato presidencial

O assunto faz parte da proposta de delação premiada do ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, na Lava Jato. Ele se propôs a relatar informações sobre a participação da empresa na campanha do Chile em 2013. Há mais de um ano Léo Pinheiro negocia um acordo com a PGR (Procuradoria-Geral da República).

Autoridades brasileiras disseram aos colegas chilenos que o acordo está próximo de ser fechado, segundo relatos ouvidos pela Folha.

Nas últimas semanas, a procuradora chilena Ximena Chong, responsável pelo caso no país, esteve no Brasil para interrogar três executivos que trabalharam na OAS, além de Léo Pinheiro, que está preso em Curitiba.

O procedimento de cooperação internacional com o Brasil, administrativo, tem como foco Enríquez-Ominami. Chong, porém, aproveitou a oportunidade para fazer perguntas sobre Bachelet.

Entre as pessoas procuradas pela investigadora estão Augusto César Ferreira Uzeda, responsável pela área internacional da OAS em 2013, e Augusto César de Souza Fonseca, então diretor de Operações para o Cone Sul. Ambos estão afastados por causa da Lava Jato.

Fonseca foi ouvido pela Procuradoria chilena em 26 de março. Ele disse ter tomado conhecimento do fato de a OAS ter emprestado a Enríquez-Ominami um avião alugado pela empresa, mas negou que a decisão de favorecer o político tenha partido dele.

Os procuradores chilenos investigam se a OAS bancou um avião usado por Enríquez-Ominami durante três meses na campanha em 2013.

Segundo entrevista de Camilo Lagos, vice-presidente do PRO, partido de Enríquez-Ominami, à imprensa chilena, o avião foi parte do pacote oferecido pela empresa do marqueteiro Duda Mendonça, que foi ao Chile fazer trabalhos para o candidato.

A campanha diz que abriu uma companhia de comunicação chamada de Cono Sur Research SPA para trabalhar com Mendonça. Segundo relato de Lagos, essa empresa teria pago os custos do avião.

Acompanhada por dois membros da força-tarefa de Curitiba, Chong também esteve na carceragem da PF para interrogar Léo Pinheiro. Perguntou a ele como e onde conheceu Enríquez-Ominami e também citou pessoas ligadas a Bachelet para saber se Pinheiro teve contato com elas. Ele ficou calado.

Há algumas semanas a investigação ouviu Mendonça, que disse desconhecer irregularidades na campanha chilena. Em fevereiro, a Polícia de Investigações do Chile realizou buscas nos escritórios da OAS no país. Também solicitou à Lava Jato acesso a depoimentos e mensagens de Pinheiro e do marqueteiro.

Naquele mês, representantes da procuradoria do Chile se reuniram em Brasília com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, além de enviados de outros nove países, para tratar da cooperação na Lava Jato.

As defesas de Duda Mendonça e Léo Pinheiro não comentam o assunto.

Neste mês, o procurador suíço Daniel Guttwiller veio ao Brasil para tomar depoimento de quatro pessoas.

Entre elas estão três delatores: o lobista Fernando Soares, o Baiano, o ex-gerente da Petrobras Fernando Musa e Aghostilde Mônaco, ex-funcionário da estatal. Todos atuaram na área Internacional da Petrobras.

Cruzadas, as delações deram origem à 30ª fase da Lava Jato, cujo principal alvo foi o executivo da Petrobras Demarco Epifânio.

OUTRO LADO

A assessoria da presidente Michelle Bachelet informou que ela já se manifestou sobre o assunto em outras ocasiões. O governo do Chile encaminhou à Folha reportagens publicadas na imprensa local com declarações da presidente sobre o caso OAS.

Em março de 2016, Marco Enríquez-Ominami disse que Bachelet havia se reunido com executivos da OAS em 2013, durante viagem oficial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A presidente negou e disse que se reuniu apenas com Lula.

Ela também foi questionada sobre o assunto em entrevista coletiva em fevereiro deste ano. "Eu disse em março do ano passado que toda fonte de financiamento da campanha foi informada para o Servel [Serviço Eleitoral do Chile], foi aprovada pelo Servel e é a fonte de financiamento que teve na campanha", disse a presidente.

"No ano passado falei sobre este mesmo tema e o descartamos categoricamente", afirmou também.

Além disso, Michelle Bachelet disse que nunca teve "nenhuma vinculação com a empresa mencionada [OAS]".

A Folha tentou contato com o PRO, partido de Marco Enríquez-Ominami, mas não obteve retorno. A reportagem também enviou questionamentos para a equipe de sua campanha, mas não houve resposta.

LAVA JATO PELO MUNDO Investigação chegou a 43 países

Endereço da página:

Links no texto: