Folha de S. Paulo


Contrário ao 'brexit', prefeito de Londres ganha destaque

Em 2016, a maioria dos analistas achava que ele não se elegeria prefeito de Londres, cargo a que concorria pela primeira vez. Inexperiente e diferente do padrão dos eleitores da cidade, parecia destinado à derrota.

Foi eleito. Agora, mal começada a gestão na capital britânica, tem recebido tantos elogios que começa a ser apontado como um possível azarão numa eleição para o Executivo nacional, para substituir o atual governo, que não foi eleito para o cargo e tem dificuldade até para coordenar seus ministros.

O "brexit", decisão do Reino Unido de abandonar a União Europeia (UE), tem ajudado o prefeito de Londres, Sadiq Khan, a se destacar na crise política britânica.

Toby Melville - 4.abr.17/Reuters
Mayor of London Sadiq Khan poses following an environment and emissions policy launch event outlining plans to place a levy on the most polluting vehicles in London, Britain, April 4, 2017. REUTERS/Toby Melville ORG XMIT: TOB505
Sadiq Khan, prefeito de Londres, posa na capital britânica durante lançamento de uma campanha contra a poluição

Ele é o único nome do Partido Trabalhista que tem dividido espaço nos meios de comunicação com a primeira-ministra Theresa May, do Partido Conservador, e com os ministros incumbidos de conduzir a saída da comunidade europeia. O líder trabalhista, Jeremy Corbyn, aparece como uma figura apagada no meio do redemoinho.

Em 31 de março, o jornal "Evening Standard" publicou uma pesquisa que mostra que Corbyn tem avaliação negativa em todos os segmentos de opinião em Londres, mesmo entre tradicionais eleitores trabalhistas.

Enquanto isso, Khan é bem visto por todos os segmentos sociais, mesmo entre os conservadores.

No plebiscito de junho de 2016 sobre a UE, Khan fez campanha pela permanência no bloco, absolutamente sintonizado com os eleitores de Londres (60% deles votaram contra o "brexit"). E agora tem procurado representar o sentimento dominante na cidade: já que a saída é inevitável, é necessário assegurar um bom acordo que não prejudique a economia do país e da capital globalizada.

Para tanto, Khan tem ultrapassado suas competências na condição de prefeito da capital. Duas semanas atrás, ele rodou os gabinetes dos líderes europeus em Bruxelas para pedir serenidade e garantias de que Londres não perderá com a separação.

No dia 28, um dia antes de o governo britânico dar início formal às negociações para deixar a UE, Khan assinou com o prefeito de Paris um acordo comercial típico de parceiros europeus, para dar descontos aos turistas que visitam uma cidade esticarem até a outra. Os dois se anteciparam para criar um fato consumado.

MODERADO

Embora com um discurso moderado, Khan tem fustigado as contradições em discursos de ministros conservadores e explicitado as diferenças de visão sobre o "brexit".

Diogo Bercito/Folhapress
Pessoas protestam contra o início do
Pessoas protestam contra o início do "brexit" em frente ao Parlamento britânico

Apesar da origem na esquerda, ele se comporta como porta-voz das empresas financeiras preocupadas com restrições que forcem sua transferência para o continente. Khan tem levado às reuniões com ministros os representantes de empresas da chamada "City", o centro financeiro londrino.

Muitos estudiosos da globalização defendem que as metrópoles globais não cabem nos limites das nações onde se assentam e que, ao longo do século 21, vão se afirmar como as entidades mais dinâmicas da geopolítica internacional, superando a hegemonia dos poderes nacionais.

As grandes cidades sediam fluxos de produção e logística de bens, energia, capital e movimentação humana que superam limites nacionais e continentais. E só conseguem isso porque criam escala com seus muitos milhões de habitantes.

Por isso, as 40 maiores cidades do planeta criaram uma organização (o C-40, de que São Paulo faz parte) para discutir parcerias e soluções para seus problemas. A ideia é que decisões tomadas por essas cidades serão engolidas pelos governos de seus países, mesmo que a contragosto.

Esse dinamismo naturalmente faz dos governantes das metrópoles referências políticas em seus países e no planeta, interlocutores que disputam espaço com os governos nacionais, como fez Khan nos últimos dias.

Se continuar surfando nessa onda, pode vir a ser a zebra da eleição de 2020. E, se a primeira-ministra Teresa May continuar como uma líder estabanada de um governo descoordenado, é possível que a oportunidade chegue até mesmo antes disso.


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