Folha de S. Paulo


Militares israelenses descartam a possibilidade de confronto se espalhar

Mass Communication Specialist 3rd Class Robert S. Price/U.S. Navy via AP
Imagem cedida pela Marinha dos EUA do navio USS Ross lançando um míssil Tomahawk do mar Mediterrâneo em direção à Síria
Imagem cedida pela Marinha dos EUA do navio USS Ross lançando um míssil Tomahawk do mar Mediterrâneo em direção à Síria

Em 2013, quando um ataque americano à Síria parecia inevitável, o Exército israelense acompanhou a situação do outro lado da fronteira, nas colinas de Golã.

Generais temiam a escalada do conflito, em que a facção libanesa Hizbullah poderia revidar em Israel, lançando uma barragem de mísseis.

O bombardeio tardou quatro anos, até esta sexta-feira (7). Mas militares israelenses descartam, desta vez, a possibilidade de que o confronto se esparrame na região.

"O que aconteceu na Síria foi bastante localizado", diz à Folha o general de brigada aposentado Nitzan Nuriel, que foi responsável pela frente de batalha libanesa na guerra de 2006 e adido na embaixada em Washington.

"A Síria fez uma coisa inaceitável ao usar armas químicas. Os EUA bombardearam apenas um aeroporto, poucas aeronaves. Não foi uma resposta grande o bastante para levar à guerra."

Nuriel diz que, ao atacar a Síria, Trump quis reforçar a mensagem de que as regras do jogo mudaram com a sua posse, em janeiro deste ano.

Foi um alerta ao Irã e à Coreia do Norte de que os testes de seus programas militares não serão tolerados.

"Precisamos olhar para o contexto mais amplo", diz. "Depois de diversos eventos em que a o governo americano precisava ter feito algo e não fez, decidiram agir."

Restam poucas opções a Assad, segundo o general de brigada. Uma delas seria revidar em Israel, como o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein fez em 1991, lançando mísseis contra o aliado dos EUA no Oriente Médio. "Mas não acho que ele seria tão estúpido", diz Nuriel.

A outra opção seria financiar grupos terroristas para, no médio prazo, atacarem alvos americanos. "Não será amanhã, mas vamos ver ataques ligados à Síria", diz.

O major-general aposentado Yaakov Amidror, que assessorou o premiê Binyamin Netanyahu em questões de defesa nacional, concorda que o regime sírio não vai agir imediatamente. À Folha ele diz que Assad "não tem a capacidade para fazer nada". "Sua sobrevivência depende das ações dos russos, dos iranianos e do Hizbullah."

Assim como Nuriel, ele elogia a ação de Trump e diz que, com o bombardeio americano, os atores regionais "precisarão reavaliar os EUA como um fator". "Ao contrário da administração anterior, esta não vai ficar sentada quieta enquanto alguém comete atos terríveis."

TEERÃ

O ataque americano foi também bem recebido entre líderes políticos israelenses. O premiê Binyamin Netanyahu afirmou que Israel apoia a decisão de bombardear a base aérea no oeste sírio.

"Tanto em palavra quanto em ação, o presidente Trump enviou uma forte e clara mensagem de que o uso de armas químicas não será tolerado", afirmou Netanyahu. "Israel espera que essa mensagem de determinação ressoe não apenas em Damasco, mas também em Teerã, em Pyongyang e em qualquer outro lugar", disse.

Israel se mantém às margens do conflito sírio, mas realizou seus próprios ataques aéreos em ocasiões pontuais, como a movimentação do arsenal do Hizbullah nas regiões fronteiriças.

Netanyahu foi avisado pelos EUA a respeito do bombardeio desta sexta-feira. Não está claro se Israel colaborou transferindo informações de inteligência. O ministro da Defesa israelense, Avigdor Lieberman, disse que o ataque foi uma "importante mensagem moral".

ATAQUE À SÍRIAO míssel Tomahawk

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