Folha de S. Paulo


Representante dos EUA diz que país agirá na Síria se ONU hesitar

Nesta quarta-feira (5), a representante dos Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU criticou a atuação das Nações Unidas quanto ao ataque químico ocorrido na Síria na terça (3) e afirmou que os EUA podem ignorar eventuais vetos do conselho para uma ação em relação ao país árabe.

O presidente Donald Trump atribuiu o uso de armas químicas ao governo de Bashar al-Assad e disse que sua atitude em relação ao ditador e à Síria "mudou muito" após o ataque. Apesar de subir o tom em relação ao país, Trump se esquivou de falar em retaliação militar direta.

Ammar Abdullah/Reuters
Homem é tratado com oxigênio após ataque com gás na cidade de Khan Sheikhoun, na Síria
Homem é tratado com oxigênio após ataque com gás na cidade de Khan Sheikhun, na Síria

Sua embaixadora na ONU, Nikki Haley, foi mais contundente. "Quando as Nações Unidas fracassam seguidamente em sua tarefa de atuar de forma coletiva, há momentos na vida dos Estados em que nos vemos impulsionados a atuar por conta própria", declarou.

O ataque na província de Idlib (noroeste da Síria) deixou 72 mortos, 20 crianças e mais de 160 feridos, conforme a ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos. O Conselho de Segurança da ONU começou sua reunião sobre o ataque nesta quarta. Reino Unido, França e EUA apresentaram um rascunho de resolução pedindo uma investigação exaustiva do ataque, mas a Rússia, aliada do governo Assad, afirmou que o texto era "categoricamente inaceitável".

DISTANCIAMENTO

Na última semana, a embaixadora Haley declarou que a queda do ditador sírio não era mais uma prioridade de Washington para a resolução da guerra civil na região. A mudança de atitude após o ataque químico, portanto, não só distancia o governo Trump de Assad como cria uma situação de embate geopolítico com o há pouco aliado de Trump, Vladimir Putin.

Mais cedo nesta quarta, a Rússia defendeu o governo de Bashar al-Assad, alegando que as forças aéreas sírias bombardearam um "armazém terrorista" com "substâncias tóxicas", o que teria causado o vazamento do material. Trump disse que "esses atos de ódio do regime de Assad não podem ser tolerados", sem dizer o que seu governo fará a respeito.

"Não estou dizendo que faremos algo de um jeito ou de outro, mas certamente não contarei a vocês", disse o presidente norte-americano, afirmando ainda que revelar ações militares com antecedência foi um erro cometido com frequência pela gestão de seu antecessor, Obama.

Yuri Gripas/Reuters
Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o rei Abdullah, da Jordânia, em entrevista conjunta à imprensa em Washington
O presidente dos EUA, Donald Trump, e o rei Abdullah, da Jordânia, em entrevista à imprensa

AGENTES QUÍMICOS

Também nesta quarta a Organização Mundial da Saúde (OMS), afirmou que algumas vítimas do ataque químico na Síria apresentam sintomas que recordam a exposição a uma categoria de produtos químicos, como "agentes neurotóxicos".

ARMAS QUÍMICASUsos e efeitos de agentes tóxicos

Foram encontrados "sinais compatíveis com uma exposição a produtos organofosforados (grupo de químicos usados como pesticidas artificiais), uma categoria que inclui agentes neurotóxicos", afirmou a OMS. A ONG Médicos Sem Fronteiras afirmou que um dos seus hospitais na Síria tratou pacientes "com sintomas consistentes com a exposição a agentes neurotóxicos como o [gás] sarin".


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