Folha de S. Paulo


Maduro critica Mercosul por ignorar Paraguai e só pressionar Venezuela

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, criticou neste domingo (2) os países do Mercosul por não fazerem menção aos protestos violentos no Paraguai na sessão em que o bloco aplicou a cláusula democrática sobre o país caribenho.

"Não deram um pio [sobre o Paraguai] os chanceleres da Tríplice Aliança", disse o mandatário, em seu programa "Contato com Maduro", em referência aos governos de Mauricio Macri (Argentina), Michel Temer (Brasil) e Horacio Cartes (Paraguai).

Para ele, a revolta paraguaia contra a reeleição e os protestos contra as reformas trabalhistas e da previdência são um exemplo da falência dos governos de direita. "Está se levantando uma nova onda popular na América Latina."

Sobre a decisão do Tribunal Supremo de Justiça de derrogar o poder de legislar do Judiciário e o fim da imunidade parlamentar, Maduro brincou que a reunião do Conselho de Defesa "terminou com fumaça branca".

"Solucionamos o problema de forma constitucional, seguindo o princípio de autodeterminação dos povos, sem uma intervenção externa. Que ninguém tente intervir neste país. Vai recolher o pó que deixará este povo."

"HIENAS FAMINTAS"

O presidente ainda chamou de "hienas famintas" os manifestantes da oposição que foram às ruas no sábado (1º). "Reuniram 400 pessoas em busca de violência, para queimar e destruir nas ruas para mostrar para a TV espanhola e americana", disse.

"Depois dizem que são presos políticos, que lutam contra um ideal. Que ideal têm vocês? Queimar? Destruir? Intervir? São todos crimes, e crimes contra a pátria."

Além das críticas, ele apresentou exemplos de crescimento da produção agrícola, da construção civil e da indústria de beneficiamento apoiados pelo Estado. "Acabou o modelo rentista do petróleo, este modelo econômico parasita, e entramos na era pós-petroleira", disse, embora seu governo tenha seguido este modelo até 2015.

BRIGA ENTRE PODERES

O Congresso da Venezuela, controlado pela oposição, vai começar na terça-feira (4) um processo para remover juízes que assumiram funções legislativas com uma decisão controversa, afirmou neste domingo (2) o parlamentar da oposição Juan Miguel Matheus, embora seja improvável que ele tenha sucesso.

A Suprema Corte da Venezuela determinou na quarta-feira (29) que assumiria um papel legislativo, ao considerar que o Parlamento estava em desrespeito por não expulsar três membros acusados de compra de votos.

No entanto, após protestos, acusações contra governo Nicolás Maduro de ser uma "ditadura" e uma forte pressão internacional para o respeito da independência dos poderes, o tribunal voltou atrás no sábado.

"O necessário processo de remoção desses juízes será iniciado na sessão da Assembleia Nacional de terça-feira", disse Matheus, no edifício do Parlamento, rodeado por juristas que explicaram as inconsistências das decisões da corte.

ORDEM CONSTITUCIONAL

Deputados do Parlamento venezuelano, de maioria opositora, afirmaram neste domingo (2) que a luta pelas eleições para "restituir a ordem constitucional" está apenas começando, depois que o máximo tribunal se adjudicou brevemente das funções legislativas.

"Acabaram de destruir a independência de poderes quando o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) tentou despojar a Assembleia de suas competências", denunciou Freddy Guevara, vice-presidente da Câmara, durante um ato com acadêmicos, ONGs, juristas e estudantes.

Após a forte rejeição internacional desta atitude do TSJ, a procuradora-geral Luisa Ortega Diáz –próxima ao chavismo– também condenou os ditames apresentados.

Ortega afirmou que as decisões judiciais consistiam em uma "ruptura da ordem constitucional".

"A intenção do governo [ao eliminar as sentenças] é desmobilizar o povo em sua justa reclamação e parar a pressão da comunidade internacional", advertiu Guevara.

O deputado afirmou que a crise do país irá se manter enquanto o governo se negar a respeitar a Assembleia, liberar os opositores presos, aceitar ajuda humanitária internacional e realizar eleições.

"Isso apenas começou. Todos estamos ativos porque a luta pela liberdade não vai parar até que seja restituída a ordem constitucional [...] Lutaremos pelas eleições que temos direito, as de governadores, as de prefeitos, e as presidenciais para solucionar a crise", acrescentou o legislador.

"Reafirmamos o chamado para organizar e mobilizar o país para conseguir a destituição dos magistrados que cometeram este golpe de Estado", declarou Guevara.

O deputado pediu às Forças Armadas, aos defensores e todas as instituições que imitem a atitude da procuradora.

A Venezuela atravessa uma aguda crise econômica, com a escassez de alimentos e remédios, e uma inflação que este ano pode chegar a 1.660%, segundo o FMI.


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