Folha de S. Paulo


Não exageremos o alcance populista, diz embaixador da União Europeia

Com otimismo em relação ao futuro, ressaltando seus avanços econômicos e lamentando o "brexit". Foi assim que os palestrantes do seminário "União Europeia, 60 anos" avaliaram a situação atual do bloco.

O debate, promovido pela Folha, aconteceu na noite desta quinta-feira (30), no auditório do jornal, e foi mediado pela colunista Maria Cristina Frias e pelo repórter especial Igor Gielow.

"Não devemos exagerar o alcance de movimentos populistas. Não há nenhum país europeu em que extremistas, de direita ou esquerda, possam chegar ao poder", avalia o embaixador da União Europeia no Brasil, o português João Cravinho.

Marlene Bergamo/Folhapress
MUNDO - Debate
João Cravinho (à esq.), Giorgio Trebeschi e Kirstyn Inglis

Como exemplo, ele cita o resultado das eleições da Holanda, na qual a extrema direita, capitaneada por Geert Wilders, teve um resultado abaixo do esperado. O embaixador também afirmou não acreditar numa eventual vitória de Marine Le Pen no pleito presidencial francês, cujo primeiro turno acontece em 23 de abril.

Avaliando o lado econômico da integração, o economista-sênior do Banco Central da Itália Giorgio Trebeschi chamou a atenção para os números. "Além do aspecto idealista, há um lado pragmático. Por que nos unimos? Porque vimos que do jeito que estávamos não funcionava. Acho que deveríamos colocar com mais força no debate os resultados econômicos da integração", afirmou.

Trebeschi citou estudos que apontam que o PIB per capita da UE cresceu, desde 1960, um terço a mais que o americano, e que esse mesmo indicador seria cerca de 20% menor caso não houvesse integração. Para ele, a solução para os problemas econômicos é mais, e não menos, Europa: uma união bancária completa, contendo garantias de depósitos e acordos de partilha de riscos.

Mesmo em relação à Grécia, país que ainda sofre efeitos da crise iniciada em 2008, Trebeschi considera que houve avanços. "Dizem que a Grécia foi colocada de joelhos pela União Europeia, mas o PIB de lá hoje, apesar da crise, é maior do que antes de o país integrar a UE."

'BREXIT'

A britânica Kirstyn Inglis, professora-visitante de Relações Internacionais na USP, considera a saída do Reino Unido "muito triste".

Inglis acredita que a falta de informações sobre o bloco tenha sido um dos fatores do resultado. Ela cita uma pesquisa do instituto Eurobarometer que aponta os britânicos como os segundos membros mais ignorantes sobre União Europeia dentro do bloco –à frente apenas da Letônia. "A ignorância é um problema no Reino Unido. Os cidadãos não entendem os benefícios que vêm da União Europeia", avalia.

A professora também citou uma distinção entre cidadãos de "anywhere" (qualquer lugar) e de "somewhere" (algum lugar). Enquanto os primeiros são abertos e cosmopolitas, os segundos são avessos a mudanças e rechaçam pessoas diferentes em suas comunidades.

Cravinho admite que o bloco tem um "problema de imagem" e falha em sua comunicação, mas cita também os políticos como responsáveis por esse cenário.

"Os líderes europeus foram muito rápidos em atribuir culpa a Bruxelas por tudo que é desconfortável e em atribuir a eles mesmos qualquer coisa boa", avalia.

Por fim, o embaixador afirmou que "há fila de espera para entrar, e não para sair da União Europeia", após rechaçar a ideia de um "grexit", eventual saída da Grécia da zona do euro ou até da UE.

Ainda assim, Cravinho acredita que não seja o momento de absorver novos membros no bloco.

"O momento é de nos reorganizarmos. Daqui a uns cinco anos, poderemos admitir países interessados, como Albânia, Sérvia e Montenegro."

Confira o debate:

Debate sobre os 60 anos da UE


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