Folha de S. Paulo


Revés do Trumpcare na Câmara mostra peso de bancada conservadora

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, arrancou risadas de deputados republicanos quando, em visita ao Congresso na última terça (21), ameaçou "ir atrás" de Mark Meadows, líder do chamado "Caucus da Liberdade", se o grupo não votasse a favor da proposta do governo para a substituição do Obamacare.

Três dias depois, quando a liderança republicana desistiu da votação diante de uma derrota inevitável, já não havia mais qualquer traço de bom humor entre os apoiadores da nova lei de saúde.

Nicholas Kamm - 23.mar.2017/AFP
US Republican Representative from North Carolina Mark Meadows speaks to reporters after a meeting of the House Freedom Caucus to discuss the healthcare bill on Capitol Hill in Washington, DC, on March 23, 2017. / AFP PHOTO / NICHOLAS KAMM ORG XMIT: NK2451
O deputado republicano Mark Meadows, líder do "Caucus da Liberdade"

O grupo de Meadows, que reúne ao menos 30 deputados da ala mais conservadora do partido –todos homens, nenhum com muita expressão nacional–, foi um dos grandes responsáveis pelo fato de o governo não ter conseguido 216 votos para aprovar projeto, mesmo com uma maioria republicana de 237 assentos.

O caucus, espécie de bancada mais formal no Congresso, recebeu concessões do presidente, como mudanças que retiraram do texto a obrigatoriedade de que planos de saúde oferecessem "benefícios essenciais", como atendimentos emergenciais. Grande parte dos membros do grupo, porém, considerou pouco e queria menos regulação federal sobre os planos.

Meadows chegou a recuar nas críticas e reconhecer os esforços de Trump, mas, por fim, disse não ter poder sobre o voto dos colegas de caucus.

Horas antes da votação, o presidente escreveu no Twitter achar "irônico" que seus membros "pró-vida", ao frearem a proposta, permitissem que a Planned Parenthood –organização pró-aborto e de assistência a mulheres– continuasse a atuar. Pela chamada Lei de Saúde Americana, redigida pelo presidente da Câmara, Paul Ryan, a ONG deixaria de receber fundos federais por ao menos um ano.

Após abandonado o texto, Meadows disse que o caucus está disposto a ajudar na redação de uma nova proposta.

Trump, porém, afirmou que deve investir agora na reforma tributária, na qual os membros do grupo podem continuar sendo uma pedra no sapato do presidente.

Não se espera, por exemplo, que os seus deputados apoiem os generosos cortes de impostos que Trump promete se isso aumentar o deficit. A vitória na última sexta deu ao grupo certeza de que, na atual formação da Câmara, eles têm peso importante em qualquer disputa.

O perfil do grupo, desde que foi criado em janeiro de 2015, com nove integrantes, é de contestar a política convencional, "representando os inúmeros americanos que não se sentem representados por Washington", diz o texto que anunciou sua fundação.

Apesar de a descrição se assemelhar à retórica de Trump na campanha, a maioria teve como primeira opção nas primárias republicanas à Casa Branca o senador Ted Cruz.

Entre as principais bandeiras do caucus estão a defesa de um Estado cada vez menor e a oposição ao aborto.

Seu momento de destaque até agora havia sido o intenso embate travado em 2015 com o então presidente da Câmara, John Boehner, que, sob pressão, renunciou em outubro daquele ano. O grupo tem demonstrado que não pegará mais leve com Ryan e Trump.


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