Folha de S. Paulo


Maduro pede ajuda à ONU para elevar produção de remédios na Venezuela

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu nesta sexta-feira (24) ajuda à ONU para aumentar a produção de remédios no país, um dos principais produtos escassos devido à crise econômica e humanitária.

O governo chavista recorre à organização depois de criticar relatórios que pediam medidas para dar fim à crise política e ao desabastecimento e rejeitar doações de medicamentos de outros governos, incluindo o brasileiro.

Presidência da Venezuela/Xinhua
O presidente Nicolás Maduro participa da inauguração de uma exposição econômica em Caracas
O presidente Nicolás Maduro participa da inauguração de uma exposição econômica em Caracas

A solicitação foi feita à diretora do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) para a América Latina, Jessica Faieta, em reunião sobre o IDH —o país ficou em 71º lugar, oito posições a frente do Brasil.

"A ONU tem os planos mais avançados e completos no mundo para recuperar a produtividade da indústria farmacêutica e orientá-la aos medicamentos do povo para fortalecer o sistema de saúde", disse Maduro, em cadeia nacional.

O presidente orientou seus ministros a fazerem as melhoras sugeridas por Faieta. "Pedi à ONU que considere as feridas econômicas e sociais que agridem nosso povo pela guerra econômica e pela queda dos preços do petróleo."

Os remédios seriam distribuídos pela missão Bairro Adentro, similar ao brasileiro Mais Médicos, e pelos Comitês Locais de Abastecimento e Produção, em que militantes chavistas fornecem alimentos e outros itens escassos.

Maduro colocou o aumento da produção de medicamentos entre os pontos do combate à "guerra econômica", como chama a crise financeira. Há dois anos faltam no país remédios e insumos médicos, como luvas, gaze e esparadrapo.

A escassez levou os hospitais ao colapso e criou um mercado clandestino de remédios —alguns importados com dólar paralelo, 300 vezes mais caro que o câmbio oficial de importação, e outros fabricados sem controle de qualidade.

Apesar da situação, Maduro se recusou a aceitar doações de medicamentos, como uma feita pelo Brasil em junho. Na época, o Itamaraty disse que atendia a um apelo da oposição, que exige a entrada de ajuda humanitária.

A permissão para a chegada das doações é também um dos pontos do acordo do diálogo mediado pelo Vaticano em dezembro e entre os pedidos da Comissão Interamericana de Direitos Humanos em relatório de janeiro.

BRIGAS

O pedido de ajuda é uma trégua de Maduro em sua briga com diversas instâncias da ONU que criticaram o governo. Na semana passada, ele condenou o Conselho de Direitos Humanos, que queria enviar observadores ao país.

O órgão ainda pedia a libertação dos opositores presos, a entrada de ajuda humanitária e o respeito à autonomia do Legislativo e do Judiciário. A Chancelaria considerou o relatório "tendencioso, confuso e mal intencionado".

A comissão critica a repressão chavista a seus adversários e é rebatida por Caracas desde os protestos da oposição de 2014, assim como condenou a expulsão de milhares de colombianos quando a fronteira foi fechada em 2015. Em fevereiro, o país perdeu o direito a voto na Assembleia-Geral da ONU por falta de pagamento.


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