Folha de S. Paulo


Ante provável derrota, republicanos adiam votação do Trumpcare

Diante de uma provável derrota na Câmara da proposta para substituir o Obamacare, os líderes da maioria republicana na casa decidiram na tarde de quinta-feira (23) adiar a votação, horas antes que ela ocorresse, para a manhã desta sexta-feira (24).

A decisão é o último ato de um esforço desesperado do governo Trump e da liderança do partido nos últimos dias para que o projeto da chamada Lei de Saúde Americana não morra na Câmara. Para que o texto passe para o Senado, só poderia haver 22 deserções entre os republicanos.

Mike Blake/Reuters
Manifestantes protestam contra fim do Obamacare em frente ao escritório do republicano Darryl Issa
Manifestantes protestam contra fim do Obamacare em frente ao escritório do republicano Darryl Issa

Na tarde desta quinta, contudo, o "New York Times" publicou um levantamento segundo o qual 33 dos 237 deputados republicanos deveriam votar contra a proposta, e 11 tinham preocupações ou tendiam a rejeitar o projeto. A contagem do "Washington Post" era de que 37 deveriam se opor ao "Trumpcare", como foi apelidado.

Na manhã desta quinta, o presidente Donald Trump, que já vinha se reunindo com republicanos reticentes à proposta, recebeu novamente a ala mais conservadora da legenda —representada pelo Caucus da Liberdade, bancada dos deputados republicanos mais à direita— na Casa Branca e prometeu concessões.

No encontro, ele acordou em acabar com as exigências de que os planos de saúde ofereçam uma série de coberturas, como serviços emergenciais e cuidado pré-natal até doenças mentais.

Essa era uma das exigências do grupo conservador, que considera que manter a obrigatoriedade dos chamados "benefícios essenciais" seria um entrave para a redução dos valores dos planos de saúde.

À tarde, após a reunião, o líder da bancada, Mark Meadows, um dos republicanos mais críticos à proposta, mudou o discurso e disse que o engajamento de Trump nas negociações "talvez não encontre paralelos na história do país".

"Neste momento, ainda não temos os votos dos nossos membros para a aprovação, mas diria que está sendo feito um progresso", disse.

No início da noite, republicanos da bancada se reuniram com o autor da proposta, o presidente da Câmara, Paul Ryan, o chefe de gabinete de Trump, Reince Preibus, e o estrategista-chefe do presidente, Steve Bannon.

Mas nem todos do grupo pareciam felizes com a concessão feita pela Casa Branca. Republicanos como Justin Amash, por exemplo, defendem o fim da proibição de que planos recusem pessoas com doenças preexistentes. Também querem a revisão do artigo do Obamacare que permite que pessoas de até 26 anos sejam dependentes dos seguros de saúde dos pais.

"Retirar [os benefícios essenciais] sem fazer outras mudanças substanciais vai tornar a proposta pior, não melhor. A mudança vai prejudicar as pessoas mais doentes", disse Amash.

As mudanças prometidas por Trump também podem fazer com que o projeto perca mais votos entre republicanos mais ao centro.

Liderados pelo chamado Grupo da Terça, os republicanos moderados consideram que, como está, o texto já vai fazer com que muitos americanos percam a cobertura e afetará principalmente os mais pobres. Havia a previsão de que Trump se encontrasse também com membros desse grupo ainda na noite de quinta.

Assim que a votação foi adiada, o Escritório do Orçamento do Congresso (CBO, sigla em inglês), agência não partidária ligada ao Legislativo, divulgou uma nova projeção, mostrando que as mudanças feitas no texto na última segunda (20) não alteram a previsão de que, com a proposta, 24 milhões de pessoas perderão a cobertura nos próximos dez anos.

Só que o corte no deficit, com as mudanças, seria apenas de US$ 150 bilhões até 2026, e não US$ 337 bilhões, como ocorreria com o texto original.

Se a proposta não for aprovada na Câmara, a opção para os líderes republicanos e para Trump é fazer mudanças ainda maiores no texto na quase impossível tarefa de agradar a todo o partido —ou redigir uma proposta completamente nova.

Se o texto passar, a batalha no Senado, onde a maioria republicana é mais frágil e a repulsa à nova lei, maior, será ainda mais dura.


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