Folha de S. Paulo


Duterte estuda acabar com eleições e apontar chefes dos distritos

Reprodução/Youtube
Em entrevista ao vivo, o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, entrega à diretora do site noticioso Rappler calhamaço de folhas que, segundo ele, contém nomes de 6.000 políticos envolvidos em narcotráfico e corrupção. Duterte mostra também folha com fotos de generais que, segundo ele, estão envolvidos no tráfico de drogas. Foto: Reproducao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O presidente filipino segura lista que diz conter nomes de 6.000 políticos ligados a drogas, durante entrevista

O presidente filipino, Rodrigo Duterte, estuda acabar com as eleições para o menor nível administrativo do país, os distritos da cidades, chamados barangays.

A informação foi dada pelo secretário de Interior, Ismael Sueno, em entrevista nesta quarta (22).

O objetivo, segundo ele, é impedir a eleição de chefes de barangays ligados ao narcotráfico.

Duterte foi eleito com a promessa de acabar com as drogas nas Filipinas. Desde que tomou posse, em julho de 2016, mais de 7.000 pessoas foram mortas, segundo dados oficiais (entidades de direitos humanos falam em mais de 8.000).

Veja vídeo

"Todos os cargos serão declarados vagos e preenchidos por pessoas da confiança de Duterte", afirmou Sueno.. No total, são 42.036 barangays no país —1.706 na região metropolitana de Manila.

Segundo o secretário, os nomes serão escolhidos em acordo com políticos locais, organizações não governamentais e grupos que apoiam a guerra às drogas.

As eleições para barangays já haviam sido adiadas em outubro do ano passado.

Questionado sobre o efeito político de centralizar no presidente o poder de apontar todos os chefes de barangay, Sueno afirmou que o foco da medida é combater o narcotráfico, e não beneficiar partidos ou o próprio Duterte.

Na semana passada, o presidente declarou em encontro com mais de mil prefeitos na Liga de Municípios das Filipinas que o país havia se tornado um narco-Estado nos últimos seis ou sete anos.

"Será mesmo possível evitar que o dinheiro das drogas corrompa o processo eleitoral filipino?"

Opositores afirmam que o plano é anticonstitucional.

PENA DE MORTE

Se for implantada, a medida não será o primeiro movimento controverso de Duterte.

Desde a campanha eleitoral, ele ganhou as manchetes nas Filipinas e no mundo todo ao prometer matar mais de 100 mil pessoas envolvidas com drogas, insultou o então presidente dos EUA Barack Obama, o embaixador americano em Manila e o próprio para Francisco.

Além dos discursos destemperados, houve ações concretas.

Duterte incentivou ações policiais violentas declarando mais de uma vez que policiais que matassem em "legítima defesa" não seriam punidos, elevando a mais de 2.000 em seis meses os casos de mortes supostamente em confrontos, como mostrou a Folha em reportagem especial sobre as Filipinas.

Testemunhas negam que tenha havido reação na maior parte dos casos.

Também patrocinou a volta da pena de morte no país para crimes relacionados a entorpecentes. Aprovada na Câmara, ela tramita agora no Senado.

BRASILEIROS PRESOS

Há pelo menos dois brasileiros sendo processados nas Filipinas por envolvimento com drogas.

Yasmin Silva, 20, foi detida em outubro no aeroporto de Manila quando tentava entrar no país com cerca de 6 kg de cocaína escondidos em um travesseiro. A Embaixada do Brasil em Manila não informa o nome do outro brasileiro preso -as regras impedem a divulgação de informações pessoais.

As penas de prisão para tráfico podem superar 40 anos, em cadeias cuja superlotação foi agravada desde que começou a guerra às drogas.

Mesmo que seja aprovada pelo Senado e volte a vigorar, a pena capital não deve atingir quem já está preso. Em tese, a legislação não se aplica a crimes cometidos antes de sua aprovação, a não ser para beneficiar os réus.


Endereço da página:

Links no texto: