Folha de S. Paulo


Antes nas sombras, neofascistas da Eslováquia conquistam mais adeptos

Com a cabeça curvada em reverência, Robert Svec deitou um buquê de flores vermelhas aos pés da única estátua conhecida de Jozef Tiso, o líder fascista da Eslováquia durante a Segunda Guerra Mundial, em um decadente parque monumental chamado Panteão das Figuras Históricas Eslovacas.

Por anos, a organização cultural neofascista de Svec, o Movimento de Retomada Eslovaca, era uma grupo minúsculo e marginalizado. Mas agora as plateias que ouvem seus discursos estão crescendo.

Vladimir Simicek - 11.mar.2017/AFP
Manifestantes protestam contra o avanço da extrema direita em Bratistlava, na Eslováquia, em 11 de março
Manifestantes protestam contra o avanço da extrema direita em Bratistlava, na Eslováquia, no dia 11

Em um evento recente, 200 pessoas se reuniram a Svec para celebrar o passado fascista do país, trocando o cumprimento usado na era fascista —"Na Straz", ou "Em guarda!" Svec está tão entusiasmado que vai transformar seu movimento em partido político, e planeja disputar uma cadeira no Legislativo.

"Você é nosso e sempre será nosso", disse Svec diante da estátua, tendo declarado 2017 como o Ano de Jozef Tiso, dedicado a reabilitar a imagem do antigo padre e colaborador nazista enforcado como criminoso de guerra em 1947.

Os neofascistas da Europa, que por muito tempo viveram nas sombras, começam a aparecer de novo, mais de três quartos de século depois que as botas nazistas marcharam por sobre a Europa Central e duas décadas depois que o neonazismo, os skinheads e os defensores da supremacia branca tumultuaram a transição do país para a democracia.

Na Eslováquia, neofascistas estão conquistando postos em governos regionais e no Legislativo multipartidário que eles esperam um dia substituir por um governo autoritário.

Svec está ingressando em um cenário político no qual o partido de um líder neofascista estabelecido. Marian Kotleba, demonstrou força surpreendente na eleição legislativa do ano passado, conquistando 14 dos 150 assentos.

Kotleba, 39, costumava aparecer em público usando uniformes semelhantes aos usados pelos funcionários do Estado eslovaco durante a Segunda Guerra Mundial. Quando ele e seu partido conquistaram cadeiras no Legislativo, os uniformes desapareceram e ele transferiu seus ataques dos judeus aos imigrantes da minoria étnica roma.

Mas a mensagem subjacente de grupos como os de Kotleba e Svec não mudou —a Eslováquia vivia melhor sob um governo fascista.

Tradução de PAULO MIGLIACCI.


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