Folha de S. Paulo


Ativista russa da banda Pussy Riot ataca Putin em show nos EUA

Maria "Masha" Alyokhina, 28, sobe ao palco de gorrinho rosa, lembrando as ativistas da Marcha das Mulheres contra o presidente dos EUA, Donald Trump. Mas logo o gorrinho vira uma balaclava e ela começa a gritar impropérios em russo. Lembramos que há outro inimigo no recinto, o líder russo, Vladimir Putin.

Alyokhina é membro do coletivo Pussy Riot e ficou 21 meses presa por causa de uma performance de 40 segundos na Catedral de Cristo Salvador, em Moscou. O grupo protestava contra os líderes da Igreja Ortodoxa que apoiavam Putin na eleição de 2012.

Valerie Macon - 12.mar.2017/AFP
Nastya (L) and Maria Alyokhina of Russian Band Pussy Riot perform onstage at the Fonda Theater on March 12, 2017, in Hollywood, California. Russian punk provocateurs Pussy Riot are branching into theater to tell their story in a performance entitled
Integrantes da banda russa Pussy Riot em show na Califórnia no domingo (12)

A ativista, libertada em dezembro de 2013, estreou seu novo projeto chamado Pussy Riot Theater na quarta (15), num bar semilotado de Austin, como parte do festival South by Southwest (SXSW).

Após rodar o mundo dando palestras, ser tema de livros e documentários, ela finalmente se apresentou nos EUA, ao lado do ator Kyril Masheka e da dupla de músicos Nastia e Max, ela no saxofone e ele nos sintetizadores.

"Putin é um imperador que não queremos. Virgem Maria, tire-o do poder", proclama em russo, com legendas em inglês projetadas num telão, que também traz imagens de ensaios e dos protestos na igreja e na praça Vermelha. "Fomos à praça porque acreditamos em outra vida. Queremos fazer uma revolução."

"A primeira greve de fome é como o primeiro amor. Algo muito confuso", continua Alyokhina, que usa a performance para narrar a trajetória do Pussy Riot e os maus tratos que passou numa remota prisão na Sibéria.

Ela foi obrigada a ficar em uma solitária, já que corria risco de morrer devido às provocações de outras detentas. O roteiro é baseado em seu livro "I Felt Free" ("Senti-me livre"), que deve ser publicado no segundo semestre nos EUA, pela Penguin Books.

O show seguiu por uma hora, com a música servindo apenas de fundo para sua voz quase em transe, em longas passagens verborrágicas. O saxofone é histérico, e os sintetizadores e baterias soam como filmes de suspense.

Apesar de algumas rimas fortes, o clima revolucionário acaba forçado e o teor artístico, um tanto datado, ainda mais quando Masheka joga copos de água na plateia, depois de passar o chapéu e arrecadar muitas notas. Ele caminha entre os espectadores sem camisa, seguido pelo saxofone triste de Nastia.

Em outro momento, o grupo joga folhas de papel no público com dizeres "Corra", "Lembre" etc. O dinheiro arrecadado também é devolvido com uma chuva de notas. Talvez mais constrangedor é quando Alyokhina cita frases do ditador cubano Fidel Castro (1926-2016), personagem nada popular nos EUA.

Sua colega do Pussy Riot que também foi presa, Nadezhda Tolokonnikova, deveria dar uma palestra na quinta no SXSW, mas o evento foi cancelado sem explicações.

O festival não respondeu ás ligações da reportagem. Ao fim do show, o produtor disse que um integrante da banda, Yury Muravitsky, não conseguiu o visto americano.


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