Folha de S. Paulo


Brasil estuda novo comando de força de paz após fim da missão no Haiti

Marcello Casal Jr/Agencia Brasil
Brasilia - O ministro da Defesa, Raul Jungmann, anuncia o plano de emprego das Forcas Armadas nos presidios brasileiros (Marcello Casal Jr/Agencia Brasil) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O ministro da Defesa, Raul Jungmann, durante anúncio do uso das Forças Armadas em presídios

O Brasil quer assumir o comando de uma missão de paz da ONU assim que suas tropas tiverem deixado o Haiti, país em que lideram a força de estabilização desde 2004. O destino deve ser o Líbano ou algum país africano.

"Estamos estudando as alternativas, enquanto aguardamos o cronograma da ONU", afirmou o ministro Raul Jungmann (Defesa).

Segundo ele, a desmobilização das forças no Haiti, ilha que concentra 970 dos 1.248 militares brasileiros a serviço das Nações Unidas, deverá ser decidida em abril ou maio. Se for rápida, em outubro o grosso do contingente estará fora, mas isso pode ocorrer só no começo de 2018.

"Nossa missão está encerrada", disse Jungmann. Apesar dos problemas de segurança, a instabilidade política que levou a ONU ao país já não é tão aguda. Uma crítica costumeira às Nações Unidas, aliás, é de que o prolongamento de suas intervenções impede o desenvolvimento das instituições locais.

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Veja os dados da Minustah

Há hoje 16 missões de paz ativas no mundo. O Brasil já é o comandante do destacamento naval da Unifil, a intervenção iniciada em 1978 após a invasão israelense no Líbano, e a proximidade cultural entre os dois países também a torna desejável.

Outra missão atrativa, embora de alta complexidade, é a Monusco, na República Democrática do Congo. É a maior missão da ONU, com 23 mil integrantes e orçamento anual de US$ 1,6 bilhão, tentando controlar um conflito ativo -106 de seus integrantes já morreram de 1999 para cá.

Entre 2013 e 2015, o general brasileiro Carlos Alberto dos Santos Cruz assumiu o comando militar local. A Índia é hoje a maior contribuinte em número de soldados para a missão, que poderiam ser substituídos paulatinamente pelas tropas do Brasil treinadas no Haiti.

Outras missões que interessam ao governo estão na costa ocidental África, como as da Libéria e da Costa do Marfim. Elas são contíguas ao país por meio do Atlântico Sul, e hoje estão respectivamente sob comando militar nigeriano e francês.

O mandato atual das missões pode influenciar a decisão também. No caso do Líbano, o cronograma favorece a intenção brasileira, já que ele expira no fim de agosto. Na Libéria, em setembro, e nas outras missões africanas no primeiro semestre.

Tudo isso depende de negociação entre Brasil e a ONU. Ao longo dos quase 13 anos de existência da Minustah, o nome da missão no Haiti, 36.058 militares passaram pela ilha caribenha. Ao todo, o país gastou R$ 2,55 bilhões nas operações, tendo recebido R$ 930 milhões em reembolsos das Nações Unidas.

Houve momentos de crise na missão. Em 2010, quando um terremoto devastou o Haiti, foi necessária a ajuda americana para facilitar o trabalho de ajuda às vítimas -entre elas, 18 dos 27 militares brasileiros que morreram a serviço da Minustah.

Do lado positivo, além da experiência de comando multinacional, o patrulhamento de favelas haitianas ajudou a capacitar as Forças Armadas para operações urbanas em lugares como o Rio ou o Espírito Santo.


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