Folha de S. Paulo


Presidente turco ataca a Holanda após expulsão de ministra turca

Associated Press
Turkey's President Recep Tayyip Erdogan talks during a rally in Istanbul, Sunday, March 12, 2017. The escalating dispute between Turkey and the Netherlands spilled over into Sunday, with a Turkish minister unable to enter her consulate after the authorities there had already blocked a visit by the foreign minister, prompting Erdogan to call the Dutch fascists. Erdogan said at the rally:
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, discursa em Istambul, neste domingo (12)

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, voltou a acusar o governo holandês de atitudes que recordam "o nazismo e o fascismo" após a expulsão de uma ministra turca que participaria de uma campanha em favor do reforço dos poderes presidenciais.

A Holanda "pagará um preço alto" por sua atitude, advertiu o presidente turco durante um discurso em Istambul.

O tratamento recebido pela ministra da Família, Fatma Betul Sayan Kaya, e outras autoridades turcas na Europa refletem um aumento "do racismo e do fascismo", acusou Erdogan.

Em contrapartida, o presidente turco agradeceu a França por ter autorizado a visita do ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu.

"A França não caiu nessa armadilha", declarou Erdogan.

Em meio a esta crise diplomática, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, expressou neste domingo (12) sua intenção de favorecer uma "desescalada" na crise, mas defendeu a decisão de seu governo de expulsar no sábado (11) à noite a ministra turca.

"Faremos o possível para uma desescalada da situação", declarou Rutte. "Devemos ser a parte sensata", acrescentou, em plena campanha eleitoral para as legislativas de quarta-feira (15).

"O que aconteceu ontem foi inaceitável", afirmou, referindo-se à expulsão de Kaya, que ignorou os pedidos de Haia para não viajar a Roterdã.

Rutte também acusou a Turquia de querer tratar os holandeses de origem turca como cidadãos turcos. "São cidadãos holandeses", insistiu, assegurando que "a Holanda é um país orgulhoso". Cerca de 400.000 pessoas de origem turca vivem na Holanda.

'TRATAMENTO DESUMANO'

Enquanto manifestantes substituíram por um breve período, neste domingo (12), a bandeira holandesa por uma bandeira turca no consulado holandês em Istambul, fechado por Ancara, a ministra Kaya denunciou em seu retorno à Turquia um tratamento "lamentável" por parte das autoridades holandesas.

"Fomos submetidos a um tratamento desumano e imoral", declarou à imprensa Kaya, recebida no aeroporto Ataturk de Istambul por uma multidão agitando bandeiras turcas.

Osman Orsal/Reuters
Turkey's Family and Social Affairs Minister Fatma Betul Sayan Kaya speaks during a news conference at Ataturk International airport in Istanbul, Turkey, March 12, 2017. REUTERS/Osman Orsal ORG XMIT: GGGIST01
A ministra da Família da Turquia, Fatma Betul Sayan Kaya, durante coletiva de imprensa, em Istambul

"Como ministra, detentora de um passaporte diplomático, não preciso de permissão para entrar e encontrar meus concidadãos no nosso consulado, que é considerado território turco", acrescentou.

Durante a noite, cerca de mil manifestantes se reuniram perto do consulado turco em Roterdã. A polícia holandesa dispersou o protesto com canhões de água e polícia montada.

A entrada de Kaya na Holanda foi considerada como "irresponsável" por Haia.

COMÍCIO NA FRANÇA

As tensões entre os dois países aumentaram nos últimos dias devido ao anúncio da visita do ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, com Haia recusando-se a endossar uma visita destinada a "fazer campanha política para um referendo".

Impedido de entrar na Holanda, o chanceler se dirigiu, neste sábado (11) à noite, para a França, onde aterrissou em Metz, no leste da França, para participar de uma reunião organizada pela União dos Democratas Turcos Europeus (UETD), que organiza comícios eleitorais para o partido AKP do presidente Erdogan.

Por esta ocasião, o chefe da diplomacia francesa, Jean-Marc Ayrault, pediu "calma".

"É indispensável manter a responsabilidade e evitar polêmicas inúteis", acrescentou, pedindo às "autoridades turcas que evitem os excessos e provocações".

Vincent Kessler/Reuters
Turkish Foreign Minister Mevlut Cavusoglu poses with a supporter holding portraits of Turkish President Recep Tayyip Erdogan and Prime Minister Binali Yildirim (R) at the end of a political rally on Turkey's upcoming referendum, in Metz, France, March 12, 2017. REUTERS/Vincent Kessler ORG XMIT: VAK0
O chanceler Mevlut Cavusoglu ao lado de um apoiador do presidente Recep Tayyip Erdogan

Cavusoglu também deveria participar em uma reunião em Zurique, mas o encontro foi cancelado após a recusa do hotel onde deveria acontecer o evento, de acordo com a Radio-télévision Suisse (RTS).

O ministro turco havia desafiado a Holanda, ameaçando com "sanções severas", caso fosse impedido de participar do comício. Por esta razão, Haia proibiu seu avião de pousar, irritando o presidente Erdogan, que falou de "vestígios do nazismo".

Ancara, em seguida, fechou a embaixada e o consulado holandeses, bem como as residências do responsável pelos assuntos da embaixada e do cônsul, por "razões de segurança".

A chancelaria da Turquia também convocou no sábado o responsável dos assuntos holandeses e informou "não querer que o embaixador holandês, atualmente fora do país, retornasse ao trabalho por tempo indeterminado".

A crise entre a Holanda e a Turquia acontece apenas alguns dias antes da eleição parlamentar holandesa marcada para quarta-feira (15), depois de uma campanha marcada pela questão do Islã. Neste contexto, o partido do deputado anti-Islã Geert Wilders é apontado em segundo lugar nas últimas pesquisas.

A campanha pró-Erdogan na Europa também causou tensões com a Alemanha, onde várias cidades cancelaram comícios pró-Erdogan. O presidente turco acusou em 5 de março a Alemanha de "práticas nazistas", observações que indignaram Berlim e Bruxelas.


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