Folha de S. Paulo


Eleições holandesas podem dar vitória a sigla nacionalista e islamofóbica

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Dutch politician and leader of the Party for Freedom (PVV) Geert Wilders (C) campaigns in Breda on March 8, 2017 for the upcoming Dutch national elections, that will take place on March 15. / AFP PHOTO / ANP / Robin van Lonkhuijsen / Netherlands OUT ORG XMIT: 50107556
Geert Wilders, candidato de extrema-direita, faz campanha para as eleições na Holanda em Breda

Os holandeses irão às urnas na quarta-feira (15) para suas eleições gerais, em um novo teste à União Europeia.

É possível que o PVV (Partido da Liberdade), do nacionalista e islamofóbico Geert Wilders, vença o pleito.

A vitória não garantirá seu governo, pois os demais partidos podem se unir em uma coalizão e excluir a sigla, um cenário já previsto por analistas nas últimas semanas.

Mas os votos terão dado respaldo a um discurso radical. Mais um sinal, após a decisão britânica em junho de abandonar a União Europeia, de que o bloco econômico passa por uma crise.

Wilders, comparado ao presidente americano Donald Trump, terá também se consolidado como uma das principais vozes no país.

Ganhará peso, portanto, sua proposta de retirar a Holanda da União Europeia, uma decisão que ele chama de "nexit" –união do nome do país em holandês, "Nederlands", e "exit" (saída).

Ele sugeriu também uma série de outras medidas extremas, incluindo banir o livro sagrado do islã e proibir a construção de mesquitas.

Outra base de sua campanha é reduzir o número de marroquinos na Holanda.

"O país está dividido", diz à Folha Hans Vollaard, da Universidade Leiden. "Uma das questões centrais é que tipo de nação seremos. Migrantes vão se adaptar à tradição local, ou o país aceitará a diversidade cultural?".

ZERO

O PVV liderou as sondagens nos últimos meses. Mas, desde o início do mês, a sigla tem aparecido em segundo lugar, atrás do VVD (Partido Popular para a Liberdade e Democracia).

Uma pesquisa divulgada na quinta-feira (9) pela Ipsos apontou 26% dos votos para o VVD e 23% para o PVV.

Dada imprevisibilidade do pleito, ainda é possível que Wilders receba mais assentos no Parlamento.

Mas o premiê Mark Rutte, do conservador VVD, já disse que não há nenhuma chance ("zero") de que sua sigla governe ao lado de Wilders.

Outros partidos se recusam a cooperar com o populista, o que pode inviabilizar seu governo. As eleições holandesas são fragmentadas, e entre 11 e 15 partidos devem ter cadeiras. Governos dependerão de alianças.

Ainda que isso aconteça, a campanha do PVV já forçou os demais partidos a se moverem à direita e o governo a adotar medidas rígidas contra migrantes, como reduzir o tempo de abrigo para pessoas cujo pedido de asilo foi negado.

O premiê Mark Rutte publicou recentemente uma carta aberta aos migrantes pedindo que aceitem o modo de vida holandês –ou deixem o país.

IDENTIDADE

Wilders representa uma islamofobia e uma aversão a estrangeiros que surpreendem em um país que, nas últimas décadas, foi lembrado pelo liberalismo e pelo histórico de pluralidade cultural.

"O PVV tem o apoio, em especial, das pessoas que não se beneficiaram do crescimento econômico", afirma Vollaard. Há menos empregos e subsídios, por exemplo. "O Estado de bem-estar social foi reduzido e, para esses eleitores, o futuro já não parece tão promissor."

A rejeição a migrantes, provavelmente atestada nas urnas, será entendida não apenas como consequência da crise econômica, mas também como uma preocupação diante da erosão da identidade holandesa.

A migração e o islã são, afirma Vollaard, preocupações dos eleitores desde os anos 1990. Esse tema foi apenas radicalizado por Wilders.

Uma pesquisa divulgada em 2016 pela Ipsos mostrou que os holandeses estimam haver 19% de muçulmanos entre sua população de 17 milhões de pessoas, quando a porcentagem real é de 5%.

Outra sondagem, em fevereiro, apontou que 40% dos turcos e marroquinos não se sentem mais em casa na Holanda, com o crescimento da xenofobia e da islamofobia.


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