O site WikiLeaks publicou nesta terça-feira (7) documentos revelando que a CIA (Agência Central de Inteligência) criou instrumentos de espionagem cibernética para invadir celulares, computadores e até TVs conectadas à internet.
O site afirmou que irá divulgar quase 9.000 arquivos criados entre 2013 e 2016, revelando as armas cibernéticas desenvolvidas em segredo pela central de inteligência para roubar informações de alvos em outros países e transformar eletroeletrônicos simples em aparelhos de escuta.
Niklas Halle'n - 05.fev.2016/AFP | ||
O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, que vive desde 2012 na Embaixada do Equador em Londres |
A autenticidade dos documentos, batizados de "Vault 7: os instrumentos de hacking da CIA", ainda não foi comprovada. Um porta-voz da CIA afirmou: "Não comentamos sobre a autenticidade ou conteúdo de supostos documentos da inteligência". Mas funcionários e ex-funcionários do governo afirmaram a jornais americanos que os detalhes existentes nos arquivos indicam que eles são legítimos.
A arma cibernética batizada de "Anjo que chora", implantada em smart TVs da Samsung, atua como um espião no meio da sala de estar.
"Depois da infestação, o 'anjo que chora' instala um modo 'falso desligado' na TV alvo, o que leva o dono a acreditar que a TV está desligada, quando na realidade está ligada e funcionando como um grampo, gravando conversas no recinto e as enviando para um servidor secreto da CIA."
Mesmo quem usa aplicativos que criptografam as mensagens, como o Signal, o Telegram e o WhatsApp, estaria sujeito a ataques. A CIA criou armas cibernéticas para hackear os aparelhos de celular ou os tablets em que esses aplicativos são usados e obter os dados antes que eles sejam criptografados, além de ativar secretamente a câmera e o microfone do celular.
O episódio compromete o programa de ciberespionagem da CIA e é mais um capítulo na briga entre o presidente Donald Trump e as agências de inteligência dos EUA.
As agências afirmam que o WikiLeaks tem ligações com o governo russo, que teria usado hackers para tentar ajudar Trump a vencer a eleição americana.
O site postou milhares de e-mails roubados por hackers russos durante a campanha de 2016, com revelações constrangedoras para a candidata Hillary Clinton. Na época, Trump chegou a dizer: "Eu amo o WikiLeaks".
A CIA está investigando as ligações entre autoridades russas e integrantes da campanha de Trump. Trump acusou os órgãos de inteligência de serem "antiamericanos" por estarem supostamente por trás de vazamentos expondo essas ligações.
O WikiLeaks indicou ter obtido os arquivos de um ex ou atual prestador de serviços para a CIA, dizendo que eles estavam circulando entre ex-hackers do governo de maneira não autorizada.
"Imagine um mundo onde a CIA passa o tempo pensando em jeitos de te espionar através da televisão da sua casa. Isso está acontecendo hoje", tuitou o ex-analista da NSA Edward Snowden.
Ele também apontou que detectar vulnerabilidades em celulares e desenvolver armas cibernéticas para se aproveitar desses flancos, em vez de alertar os fabricantes, deixa o caminho aberto para qualquer hacker do mundo invadir esses aparelhos.
Os documentos também revelam que a CIA usaria o consulado americano em Frankfurt, na Alemanha, como um centro das operações cibernéticas. Os agentes da CIA entram com passaporte diplomático, "disfarçados" de funcionários do Departamento de Estado.