Folha de S. Paulo


Direita francesa faz reunião de urgência e banca nome de Fillon

A direita francesa deu nesta segunda (6) um voto de confiança a seu candidato, François Fillon, cuja campanha está abalada por acusações de corrupção contra ele.

A cúpula do partido Republicanos, do ex-presidente Nicolas Sarkozy, fez reunião de emergência e reiterou apoio a Fillon. Horas antes, o ex-premiê Alain Juppé afirmou que não concorreria às eleições presidenciais caso Fillon decidisse sair da disputa.

Charles Platiau/Reuters
O ex-primeiro-ministro francês e candidato presidencial François Fillon discursa em Puteaux
O ex-primeiro-ministro francês e candidato presidencial François Fillon discursa em Puteaux

Juppé afirmou ter decidido "de uma vez por todas" que não será candidato, mas disse que Fillon desperdiçou sua chance de vitória.

"Nosso país está doente", declarou Juppé em Bordeaux, cidade do litoral oeste da qual é prefeito. "Para mim é tarde demais, mas não é tarde demais para a França."

Com o declínio da campanha de Fillon e a negativa de Juppé, o partido conservador Republicanos corre grande risco de não passar do primeiro turno, marcado para 23 de abril.

Se isso ocorrer, será a primeira vez na França pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que o principal partido de direita não chegará ao segundo turno.

As pesquisas apontam, por ora, que o segundo turno será disputado em 7 de maio pela líder da extrema direita, Marine Le Pen, da Frente Nacional, e pelo centrista independente Emmanuel Macron.

Sondagem divulgada nesta segunda aponta Le Pen na liderança, com 27% das intenções de voto, seguida por Macron (24%) e Fillon (19%).

No segundo turno, porém, ela seria derrotada tanto por Macron (60% a 40%) quanto por Fillon (56% a 44%).

COMPLÔ

Fillon é acusado de ter remunerado sua mulher, Penelope, como assistente parlamentar sem que ela tivesse exercido o cargo. Ele também teria contratado dois de seus filhos. O conservador admite ter errado na decisão.

As contratações não são, em si, ilegais na França. O problema, segundo as denúncias, é que seus familiares não cumpriram com as funções, o que Fillon nega.

Fillon tinha, segundo o ex-premiê Juppé, o caminho à Presidência aberto diante de si. Mas "a instigação de investigações judiciais contra ele e sua defesa baseada em um suposto complô o levaram a um beco sem saída".

Apesar de toda a pressão, Fillon tem se recusado a desistir, afirmando haver uma tentativa de "assassinato político" contra ele.

Dezenas de políticos retiraram seu apoio à candidatura, incluindo seu porta-voz, Thierry Solère, e seu diretor de campanha, Patrick Stefanini, que se demitiram.

Mas, após a declaração de Juppé, o comitê político dos Republicanos reiterou nesta segunda seu "apoio unânime" à candidatura.

A sigla não pode substituir Fillon à força. Ele foi eleito em primárias em novembro. O ex-presidente Nicolas Sarkozy, que assim como Juppé foi derrotado nas primárias, tem se mobilizado para que Fillon abandone a candidatura, mas não está claro quem tomaria o seu lugar.

HOLLANDE

A crise do Republicanos aumenta as chances de que os radicais da Frente Nacional, representados por Marine Le Pen, vençam.

O presidente François Hollande, do Partido Socialista, afirmou em entrevista aos principais jornais europeus publicada nesta segunda-feira que é seu dever impedir a vitória de Le Pen neste ano.

Ele disse que a extrema direita nunca esteve tão perto de chegar à Presidência.

Hollande decidiu não concorrer a um segundo mandato, em decisão inédita para um presidente francês desde a Segunda Guerra.

O Partido Socialista elegeu como candidato o ex-ministro da Educação Benoît Hamon, que aparece em quarto lugar nas pesquisas, com cerca de 15%, e não tem chance de chegar ao segundo turno.


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