Folha de S. Paulo


Família de Jean Charles reage com indignação à ascensão de policial

Leandro Colon/Folhapress
Protesto em Londres, em 2015, marca dez anos da morte de Jean Charles de Menezes
Protesto em Londres, em 2015, marca dez anos da morte de Jean Charles de Menezes

Cressida Dick, 56, policial envolvida na operação em que o brasileiro Jean Charles de Menezes foi morto, será a nova comandante da Scotland Yard, a polícia metropolitana da capital britânica.

Primeira mulher a ocupar o cargo policial mais alto do Reino Unido em 188 anos de história, ela substituirá Bernard Hogan-Howe, e terá salário anual de cerca de R$ 1 milhão.

Jean Charles foi morto por engano por policiais na estação de metrô Stockwell, no sul de Londres, em 22 de julho de 2005. Ele tinha 27 anos. Cressida estava no comando da operação naquele dia.

"A impressão que dá é de que, para o governo, ela fez um bom trabalho ao matar meu primo", disse à Folha Patrícia Armani da Silva, parente de Jean Charles. "Ela foi promovida até o topo."

O eletricista brasileiro havia sido identificado de maneira equivocada como sendo Osman Hussain, suspeito de tentar, sem sucesso, realizar um ataque terrorista na véspera. Ambos moravam no mesmo conjunto habitacional.

A morte ocorreu duas semanas após os atentados a bomba no metrô londrino, que deixaram 52 mortos.

Jean Charles foi baleado sete vezes na cabeça. O caso teve ampla repercussão à época, mas Cressida foi inocentada em um inquérito. A Scotland Yard foi multada.

Após um posterior recurso, a Corte Europeia de Direitos Humanos respaldou, em 2016, a decisão britânica de não acusar criminalmente os policiais envolvidos na ação.

A família recebeu a nomeação de Cressida com "indignação", afirmou Silva, após seu "terrível erro". "Ela não é adequada para comandar a polícia, com tanto poder."

Leandro Colon/Folhapress
Patrí­cia Armani da Silva, prima do brasileiro Jean Charles de Menezes
Patrí­cia Armani da Silva, prima do brasileiro Jean Charles de Menezes

TERRORISMO

A polícia metropolitana de Londres atua em território nacional, com responsabilidades também em operações de combate ao terrorismo.

O cargo é especialmente sensível em anos de alerta a possíveis atentados da facção terrorista Estado Islâmico, como o massacre que deixou 130 mortos em Paris em novembro de 2015.

O momento torna a nomeação de Cressida ainda mais preocupante, diz a prima de Jean Charles. No caso de um novo ataque terrorista em Londres, pergunta, "mais alguém do público vai pagar? Mais alguém vai levar sete tiros na cabeça por engano?".

PREFEITO

Cressida entrou para a Scotland Yard em 1983, após se graduar na Universidade de Oxford. Ela participou de uma série de operações de peso, incluindo a segurança da Olimpíada de 2012.

A nova comandante da força metropolitana havia deixado a polícia em 2015 e trabalhava no gabinete das Relações Exteriores do Reino Unido, antes da promoção.

Durante o processo de nomeação, ela foi entrevistada por Sadiq Khan, prefeito de Londres —a quem a família de Jean Charles pediu que sua nomeação fosse revista.


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