Folha de S. Paulo


Portão roubado retorna ao campo de concentração nazista de Dachau

Peça com famosa inscrição nazista "o trabalho liberta" é devolvida ao antigo campo de concentração após ser recuperada na Noruega. Item foi furtado há mais de dois anos, e circunstâncias do crime permanecem um mistério.

O portão de ferro com a inscrição "Arbeit macht frei" (o trabalho liberta) foi devolvido ao antigo campo de concentração nazista de Dachau, de onde havia sido furtado em 2014. A peça chegou da Noruega nesta quarta-feira (22).

Uwe Lein/AFP
Two men move the original iron gate with the slogan
Dois trabalhadores carregam o portão do campo de concentração de Dachau

Agora o portão será restaurado e deve voltar a ser exposto em abril, para marcar o aniversário de 72 anos da libertação de Dachau. O item, no entanto, não deve ser recolocado no seu lugar original.

Em vez disso, será exposto em um museu instalado na área do antigo campo de extermínio, que fica nos arredores de Munique e que hoje serve como memorial. A réplica que, em 2015, substituiu o portão furtado vai permanecer na entrada do local.

"Esse é um dia muito significativo para o memorial", disse o secretário da Educação, Cultura e Ciência da Baviera, Ludwig Spaenle. Ele classificou o furto do portão de um ataque a um lugar de recordação e disse que a integridade do memorial pode agora de "alguma forma cicatrizar".

Karl Freller, que chefia fundação responsável pelo memorial de Dachau, disse estar "feliz e agradecido". "Agora que temos o portão de volta, não vamos mais perdê-lo de vista."

O portão, que tem quase dois metros de altura e em torno de cem quilos, foi roubado em novembro de 2014. O episódio provocou ultraje na Alemanha e no exterior. Dois anos depois, ele foi encontrado em um estacionamento próximo à cidade de Bergen, na Noruega, após alguém ter contatado a polícia de forma anônima.

Exames não revelaram qualquer impressão digital ou DNA na peça. Investigadores ainda não foram capazes de identificar qualquer suspeito ou determinar o motivo do crime.

O furto registrado em Dachau não foi o primeiro envolvendo uma relíquia do Holocausto. Em 2009, uma peça de metal com o mesmo slogan foi roubada em Auschwitz. Um neonazista sueco e cinco poloneses foram rapidamente detidos e condenados a dois anos e meio de prisão pelo furto.

Eric Schwab - mai.45/AFP
FILES - A picture taken at the end of May 1945 shows prisoner's dead bodies in a train as seen by US soldiers near Dachau concentration camp after the US army liberated the camp. American trucks rolled into Dachau, northwest of Munich, on April 29, 1945 to discover the unspeakable horror that had led to more than 41,000 people being killed or having starved or died of disease. German Chancellor Angela Merkel will join elderly survivors of the former Nazi concentration camp at Dachau on May 3, 2015 for a solemn ceremony to mark 70 years since its liberation by US forces. AFP PHOTO / ERIC SCHWAB ORG XMIT: DAC22
Foto de 1945 mostra corpos de prisioneiros do campo de Dachau

UM SLOGAN CÍNICO

A inscrição "Arbeit macht frei" foi exibida em vários grandes campos de concentração ou de extermínio. A frase é considerada um dos mais cínicos exemplos da linguagem da propaganda nazista.

Muitas das pessoas forçadas a trabalhar nesses campos não recebiam qualquer compensação e, em inúmeros casos, acabavam trabalhando até a morte. Mais de 40 mil pessoas morreram apenas em Dachau.

Construído em 1933, o campo de Dachau foi o primeiro dessa natureza estabelecido pelos nazistas. O local logo virou um protótipo para centros de detenção em territórios controlados pelos alemães na Segunda Guerra Mundial.

Ao norte de Munique, o campo foi estabelecido inicialmente para encarcerar prisioneiros políticos, mas logo se tornou um centro de detenção para judeus, ciganos, homossexuais, ativistas cristãos e todo o tipo de dissidente.

Hoje, as antigas instalações do campo servem como um memorial, com visitas guiadas que abordam os horrores do Holocausto. Dachau atrai mais de 800 mil visitantes por ano, incluindo representantes proeminentes de governos estrangeiros, como o vice-presidente dos EUA Mike Pence, que visitou o memorial na semana passada.


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