Folha de S. Paulo


No Memorial de 11 de Setembro, poucos se lembram de ataque de 1993

Richard Drew - 27.fev.1993/Associated Press
Policiais e bombeiros fazem perícia na cratera formada pela explosão no World Trade Center em 1993
Policiais e bombeiros fazem perícia na cratera formada pela explosão no World Trade Center em 1993

Eles chegam à ponta sul de Manhattan vindos do mundo inteiro, para visitar o Memorial do 11 de Setembro em um dia de inverno incomumente quente.

Estão aqui para ver o local em que tudo aconteceu —o ponto de colisão entre dois jatos de passageiros pilotados por terroristas e as torres do World Trade Center, que levou à sua destruição em horrendas colunas de cinzas, chamas e concreto pulverizado.

Mas muita gente não percebe que também está visitando o local de um atentado anterior, que, embora menos mortífero, pressagiou a era do medo do terrorismo em Nova York, que para muita gente culminou no dia 11 de setembro de 2001.

Faz quase 24 anos que aconteceu o atentado contra o World Trade Center em 26 de fevereiro de 1993, quando seis pessoas morreram e cerca de mil saíram feridas.

Mas muitas das pessoas que contemplavam a cena do lado de fora do memorial do 11 de setembro no domingo não sabiam que esse primeiro ataque havia ocorrido, e tampouco estavam informadas sobre os discursos inflamados de Omar Abdel Rahman, o homem que as autoridades dos Estados Unidos afirmaram ter inspirado o ataque.

Abdel Rahman morreu no sábado em uma penitenciária federal norte-americana no Colorado, onde estava servindo sentença de prisão perpétua por seu envolvimento no planejamento de uma grande campanha terrorista que jamais foi executada, contra Nova York.

Kath Jones, de Portsmith, Inglaterra, que estava esperando na fila de entrada do memorial com sua filha e amigos, disse que não se lembrava do atentado de 1993.

Mas para ela, como para muita gente, o 11 de setembro é uma lembrança forte. Ela serviu no Afeganistão durante quatro períodos, entre 2004 e 2014.

"Eu era enfermeira da Marinha britânica, e atendia a pacientes norte-americanos e britânicos internados no hospital militar", disse Jones, 46, que se reformou recentemente depois de 25 anos de serviço nas Forças Armadas.

A filha dela, Becky, 21, se lembra de ter passado algum tempo hospedada em um colégio interno das Forças Armadas, quando tinha 12 anos, porque sua mãe estava em serviço ativo. Ela não sabia que um primeiro atentado havia sido realizado. "Nem era nascida", ela disse. "Nasci em 1996".

Tess Mayer/The New York Times
Turistas tiram fotos ao lado do Memorial do 11 de Setembro, em Nova York, em fevereiro de 2017
Turistas tiram fotos ao lado do Memorial do 11 de Setembro, em Nova York, em fevereiro de 2017

Lisa Morrison, 54, de Poughkeepsie, Nova York, só descobriu que o primeiro atentado ao World Trade Center havia acontecido depois do 11 de Setembro. "Fiquei surpresa quando descobri", ela disse.

Ravi Singh, de Nova Jersey, viajou para ver o memorial em companhia de sua mulher e de outro casal. Ele não se lembra dos acontecimentos de fevereiro de 1993 —o atentado com explosivos, seguido por uma frenética corrida para capturar os responsáveis.

"Meus filhos eram muito mais novos", disse Singh, que trabalha como autônomo. Mas ele havia ouvido falar de Omar Abdel Rahman, e o descreveu como "o xeque cego".

No entanto, para algumas pessoas as lembranças do primeiro atentado contra o World Trade Center são indeléveis. Lindsay Buckley e seu marido Brian, da Carolina do Norte, se lembram bem do atentado.

"Eu era muito jovem quando o atentado aconteceu", disse Buckley, 38, que cresceu no Texas. "Foi minha primeira experiência de islamofobia. Meu pai classificava o atentado como terrorismo radical. Mas não concordo muito com esse ponto de vista".

Brian Buckley se lembra de como seus pais ficaram incomodados. "A TV passava o tempo todo ligada ", ele diz. "Os dois pareciam viciados em noticiários".

Os pais deles são irlandeses que imigraram para os Estados Unidos. "Crescemos em Dublin, na época dos confrontos entre católicos e protestantes", ele disse. "Quando bombas explodem em uma cidade, isso nos leva a lembrar das bombas que explodiam no lugar de onde viemos".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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