Folha de S. Paulo


Morre mulher do caso que culminou na legalização do aborto nos EUA

Shaun Heasley/Reuters
FILE PHOTO - Norma McCorvey, the anonymous plaintiff known as Jane Roe in the Supreme Court's landmark 1973 Roe vs. Wade ruling legalizing abortion in the United States, looks on before testifying before the Senate Judiciary Committee on Capitol Hill in Washington, DC, U.S. on June 23, 2005. REUTERS/Shaun Heasley/File Photo ORG XMIT: TOR353
A americana Norma McCorvey, em junho de 2005

Usando o pseudônimo Jane Roe, Norma McCorvey encabeçou o desafio legal que culminou na decisão da Suprema Corte americana, em 1973, de legalizar o aborto em todo o país.

McCorvey morreu neste sábado (18), aos 69 anos, por insuficiência cardíaca.

O CASO 'ROE X WADE'

McCorvey, que vivia no Texas, tinha 22 anos, estava solteira e desempregada, quando engravidou de seu terceiro filho. Quis fazer um aborto, mas à época, em 1969, a interrupção da gravidez era proibida, com exceção de casos para salvar a mulher.

Assessorada por sua advogada, McCorvey decidiu recorrer à Justiça sob o pseudônimo de Jane Roe e enfrentou o promotor de Dallas, Henry Wade.

Sua filha nasceu e foi adotada, mas o caso ganhou vida própria, avançando até chegar à Suprema Corte, e se tornando uma das decisões mais importantes e conhecidas já tomadas pela maior jurisdição dos Estados Unidos, por sete votos a dois. Segundo a decisão, o direito à privacidade, garantido pela Constituição, permitiria à mulher que decidisse concluir ou não sua gestação.

A sentença do caso "Roe x Wade" teve uma existência turbulenta e seu alcance foi sendo reduzido por decisões posteriores da Suprema Corte.

A contribuição principal sobreviveu, porém, cumprindo seu papel de contenção em momentos em que o direito ao aborto ficou sob ataque de legisladores nos estados de maioria republicana. Atualmente, a vitória de Donald Trump pressupõe uma mudança de conjectura. A Casa Branca e o Congresso agora são controlados pelos adversários da interrupção voluntária da gravidez.

Ironicamente, décadas depois, McCorvey (que chegou a fazer campanhas em apoio a clínicas de aborto nos anos 1980) se tornou evangélica e uma fervorosa opositora ao procedimento. Mais tarde, se converteu ao catolicismo. "Eu sou 100% pró-vida. Não acredito em aborto, mesmo em uma situação extrema. Você não deve agir como seu próprio Deus", declarou à imprensa em 1998. Chegou a ser presa duas vezes durante protestos —a saúde frágil nos últimos anos a afastou das manifestações. Também escreveu um livro em que narra a juventude de abusos e envolvimento com álcool e drogas.

McCorvey, que passou a dizer que foi usada por sua advogada, reafirmava que nunca chegou a fazer um aborto.


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