Folha de S. Paulo


Escolhido para substituir conselheiro demitido recusa convite de Trump

Sgt. Shawn Coolman/U.S. Marines/Reuters
Robert S. Harward, vice-almirante aposentado cotado para assumir a vaga de conselheiro de Segurança Nacional
Robert S. Harward, vice-almirante aposentado cotado para assumir a vaga de conselheiro de Segurança Nacional

Robert S. Harward, um vice-almirante aposentado e ex-membro do grupo de elite Seal da Marinha americana, que foi escolhido pelo presidente Donald Trump para substituir seu conselheiro de Segurança Nacional demitido, recusou o cargo na quinta-feira (16), no mais recente infortúnio para uma Casa Branca já tumultuada.

"Esse cargo exige dedicação 24 horas por dia, sete dias por semana, e compromisso para cumpri-lo direito", disse Harward em um comunicado. "Eu atualmente não poderia assumir esse compromisso."

Ele acrescentou que desde que se aposentou de uma carreira militar de 40 anos agora tem "a oportunidade de cuidar de questões familiares e financeiras que seriam prejudicadas se ocupasse o cargo".

Duas autoridades graduadas, que falaram sob a condição do anonimato porque não tinham autorização para falar em público sobre o assunto, confirmaram que Harward citou considerações de família e finanças ao recusar o posto.

Mas sua decisão reflete o constante reboliço na Casa Branca de Trump, que foi abalada nesta semana pela renúncia de Michael Flynn, o assessor de Segurança Nacional, seguida pela saída repentina de Andrew Puzder, indicado pelo presidente para secretário do Trabalho.

Autoridades da Casa Branca se esforçaram para evitar a recusa, afirmando na noite de quinta-feira que Harward, que é próximo do secretário da Defesa, Jim Mattis, ainda estava no páreo para ser o conselheiro de Segurança Nacional.

Autoridades da Segurança Nacional atuais e passadas que conhecem a situação, e falaram sob a condição do anonimato, disseram que Harward tinha fortes reservas desde o início sobre assumir o cargo por causa do estilo imprevisível de Trump e do nível de caos que envolveu a Casa Branca. Ambos foram salientados nesta semana pelos reflexos políticos da saída de Flynn, apesar de tentativas do círculo próximo de Trump de aliviar suas preocupações.

Uma pessoa informada das discussões disse que Harward –que estava sendo entrevistado para outro cargo no governo quando foi sondado para o Conselho de Segurança Nacional (CSN)– estava assustado com as notícias na mídia sobre Trump ter dito à vice-assessora de Segurança Nacional, K.T. McFarland, que era próxima de Flynn, que ela poderia manter seu cargo. Isso aumentou suas preocupações sobre trabalhar para um presidente instável.

Trump sugeriu no início da quinta-feira que tinha pedido a renúncia de Flynn na segunda-feira (13) em parte por estar entusiasmado sobre uma pessoa que tinha em mente para substituí-lo. O presidente sabia desde o mês passado que Flynn havia mentido sobre conversas que teve com o embaixador da Rússia nos EUA, antes que Trump tomasse posse, sobre as sanções americanas a Moscou.

"Tenho alguém que acho que será excelente para o cargo", disse Trump em uma entrevista coletiva na quinta-feira. "E isso também ajuda, eu acho, a tomar minha decisão."

Naquele momento, porém, Harward, que é um alto executivo na Lockheed Martin, tinha decidido que não desejava o cargo. Ele escreveu a Trump e Mattis transmitindo sua decisão, segundo duas autoridades.

O Conselho de Segurança Nacional de Trump se envolveu em uma controvérsia política. Em um decreto no mês passado –que Trump mais tarde reclamou em privado que não tinha sido totalmente informado a respeito–, o presidente colocou Stephen Bannon, seu principal estrategista, em seu comitê de principais, dando a um assessor político uma posição de paridade com os secretários de Estado e da Defesa, e com o conselheiro de Segurança Nacional.

Dois ex-membros do conselho que trabalharam de perto com Harward disseram que seria improvável que ele assumisse o cargo sem garantias de Trump de que poderia dirigir o CSN sem intervenções de assessores políticos. Eles também falaram sob a condição de anonimato por não terem autorização para isso.

A retirada de Harward levou David Petraeus, o ex-general e diretor da CIA, a reforçar seu lobby para o cargo de assessor de Segurança Nacional, que ele deseja muito, segundo autoridades inteiradas do processo.

Petraeus foi obrigado a renunciar da CIA em 2012 depois de admitir que teve um caso extraconjugal. Em 2015, ele foi condenado a dois anos de prisão sob liberdade condicional por fornecer informação secreta à mulher com quem tinha um caso e foi multado em US$ 100 mil.

Tradução de LUIZ ROBERTO M. GONÇALVES


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