Folha de S. Paulo


Iemenitas ficam 4 dias em aeroporto após serem deportados dos EUA

Quando os irmãos iemenitas Tareq Aqel Aziz, 21, e Ammar, 19, embarcaram no último dia 27 de Adis Abeba, na Etiópia, para Washington, eles esperavam seguir em conexão até Michigan, onde reencontrariam seu pai, Aqel, que já é cidadão americano.

Ao chegarem ao Aeroporto Internacional Dulles, tiveram o visto de imigrante que conseguiram após um processo de um ano e meio imediatamente cancelado e foram levados a uma sala especial. Cerca de duas horas depois, estavam embarcados no mesmo avião que haviam chegado, como deportados, num voo de volta para a Etiópia.

Jonathan Ernst - 6.fev.2017/Reuters
Os irmãos iemenitas Tareq (à esq.) e Ammar Aziz se reencontram com o pai (centro) nos Estados Unidos
Os irmãos iemenitas Tareq (à esq.) e Ammar Aziz se reencontram com o pai (centro) nos EUA

O que os irmãos só foram saber ao chegar de novo em Adis Abeba é que o presidente Donald Trump havia assinado, enquanto eles estavam no primeiro voo, um decreto ordenando que fossem barrados no país cidadãos de nacionalidade iemenita —além de indivíduos de Síria, Líbia, Irã, Iraque, Sudão e Somália.

No aeroporto de Washington, Tareq e Ammar não puderam falar com um advogado e nem com o pai, que esperava apreensivo os filhos em Flint, Michigan, sem qualquer notícia sobre o seu paradeiro.

"Eles passaram quatro noites no aeroporto de Adis Abeba, dormindo em bancos, porque não tinham para onde ir. Depois, funcionários do aeroporto disseram que eles não poderiam ficar ali e os dois embarcaram para Djibuti, onde têm conhecidos", conta o advogado Paul Hughes, que representou a família no caso.

Os irmãos só puderam fazer o caminho de volta para os EUA depois de conseguirem um acordo legal com o governo, que também revalidou seus vistos. Chegaram ao país no último dia 5, após a liminar que um juiz federal de Seattle concedeu suspendendo o veto de Trump.

"Eles passaram por um processo muito longo, de um ano e meio, com várias checagens muito rígidas, para entrar no país e ter o visto imediatamente cancelado. Eles estavam assustados e com muito medo do que iria acontecer", lembra Hughes.

Hoje, os irmãos já estão com o pai em Flint, mas evitam falar sobre o caso por medo do que ainda pode acontecer com seu status, hoje legal, de imigrante.

No mesmo voo estava um casal iemenita com seus cinco filhos, com idades entre 3 e 14 anos. Todos tinham visto de imigrante e seguiriam para a Califórnia para um reencontro com familiares que já vivem nos EUA.

Foram deportados como os irmãos Aziz, dormiram também quatro noites no aeroporto de Adis Abeba e só conseguiram retornar a Washington no dia 5.

"É possível imaginar o desespero de pais que deixaram tudo para trás com cinco filhos e de uma hora para outra ficaram sem saber se um dia ainda poderiam entrar nos EUA", diz o advogado.

Segundo Hughes, atém do trauma, as duas famílias também precisarão lidar agora com a dívida de milhares de dólares adquirida em tantos deslocamentos não previstos. Mas processar o governo não está no plano dos imigrantes, diz o advogado. Também por medo.


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