Folha de S. Paulo


Decreto de Trump ameaça tropas dos EUA, dizem ex-secretários de Estado

Num esforço para tentar manter a suspensão do decreto que veta a entrada nos EUA de cidadãos de sete países de maioria muçulmana, os ex-secretários de Estado Madeleine Albright e John Kerry e o ex-diretor da CIA Leon Panetta disseram, em documento enviado à Corte de Apelações na noite de domingo (5), que a decisão de Trump põe em risco a segurança nacional e as tropas americanas.

Na carta, Albright, Kerry, Panetta e outros sete ex-altos funcionários de defesa e inteligência dos governos Clinton, Bush e Obama dizem reconhecer que os EUA enfrentam "ameaças reais de redes terroristas" e devem tomar "todos os passos prudentes e efetivos para combatê-las, incluindo o veto à entrada de pessoas nos EUA".

"Não estamos cientes, no entanto, de nenhuma ameaça específica que pode justificar a proibição de entrada estabelecida pelo decreto do dia 27 de janeiro", diz o texto.

O decreto de Trump veta a entrada, por 90 dias, de qualquer cidadão de sete países que, segundo o governo, representariam uma ameaça terrorista aos EUA (Síria, Iraque, Irã, Iêmen, Líbia, Somália e Sudão). O texto também proíbe a admissão de refugiados por 120 dias.

Os ex-funcionários afirmam que a decisão pode trazer "um prejuízo no longo prazo para a nossa segurança nacional e os interesses de política externa, pondo em risco tropas americanas em serviço e quebrando parcerias em contraterrorismo e segurança nacional".

"[O decreto] vai reforçar a propaganda da [facção terrorista] Estado Islâmico e servir à sua mensagem de recrutamento ao alimentar a narrativa de que os EUA estão em guerra contra o islã. Vai atrapalhar as relações com as comunidades que nossos profissionais de segurança precisam para conter a ameaça", diz o documento.

O Departamento de Justiça deverá apresentar até as 21h desta segunda (horário de Brasília) novas provas à 9ª Corte Federal de Apelações, sediada em San Francisco, de que a proibição é necessária para proteger os EUA de ameaças terroristas.

Na madrugada de domingo, a Corte manteve a liminar concedida na sexta (3) pelo juiz federal James Robart, de Seattle (noroeste), que derruba o decreto. No processo de apelação, o governo havia dito que a liminar "prejulga o discernimento de Segurança Nacional do presidente", além de não considerar que ele tem acesso a informações confidenciais.

Desde a noite de sexta, os cidadãos destes países que tinham sido barrados, mesmo com vistos, correram para tentar embarcar para os EUA. Ainda não há um levantamento sobre quantas pessoas foram beneficiadas com a "janela" aberta pela liminar.


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