Folha de S. Paulo


Trump e líder mexicano decidem não falar mais publicamente sobre muro

Em telefonema de uma hora nesta sexta-feira (27), os presidentes dos EUA, Donald Trump, e do México, Enrique Peña Nieto, concordaram em não falar mais publicamente sobre o muro na fronteira entre os dois países.

O silêncio é anunciado após três dias de bate-boca sobre a barreira. Enquanto o republicano reiterava sua promessa de campanha de fazer o vizinho pagar pela construção, o mexicano reforçava sua intenção de não dar nada.

Yuri Cortez - 31.ago.2016/AFP
Trump, ainda candidato à Casa Branca, visita o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, em agosto
Trump, ainda candidato à Casa Branca, visita o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, em agosto

Em resposta, o novo governo americano anunciou a intenção de colocar uma alíquota de até 20% para os produtos mexicanos. Diante da crise e da pressão dos opositores, Peña Nieto cancelou a visita que faria a Washington.

Depois da conversa, eles deram a impressão de concordar em discordar sobre o assunto. Em nota, a Presidência do México afirma que o muro fará parte das negociações diplomáticas a serem desenvolvidas nos próximos meses.

"Ambos reconheceram suas claras e bem públicas diferenças de posição neste tema tão sensível, e concordaram em resolver estas diferenças como parte de uma discussão integral de toda a relação bilateral", disse.

Em entrevista coletiva com a primeira-ministra britânica, Theresa May, Trump disse que a conversa foi muito boa, mas que marcou suas diferenças com o México, principalmente no aspecto comercial.

"A ligação foi muito boa. Respeito o povo mexicano, amo o povo mexicano, trabalho constantemente com o povo mexicano, mas, como vocês sabem, com nossos últimos líderes o México nos esmagou, nos fez de idiotas."

O republicano afirmou que o contato partiu de Peña Nieto, mas o país vizinho não comentou sobre de quem partiu a iniciativa da ligação. Também não se sabe se o mexicano conversou com Trump em inglês ou espanhol.

O tom foi tão amigável quanto o usado mais cedo, em mensagem no Twitter. "O México já levou vantagem dos EUA por muito tempo. Deficit comerciais gigantes e pouca ajuda na fraquíssima fronteira precisam mudar, AGORA!"

Na noite de quinta (26), comparou a barreira com o muro que separa Israel dos territórios palestinos. "Isso não é apenas política, e ainda é bom para o coração da nação porque as pessoas querem proteção e um muro protege."

COMÉRCIO

Trump considerou que as negociações serão positivas para ambos. "Sei que o presidente representa o México e o povo mexicano. Temos meses de negociação pela frente e eu represento o povo dos EUA e assim que deve ser."

O governo mexicano afirmou ter sido "uma conversa construtiva" em que se falou, além do deficit comercial —estimado em US$ 80 bilhões (R$ 252 bilhões)—, sobre assuntos como o combate ao tráfico de drogas e armas e a importância da amizade entre os países.

Na pauta do encontro em Washington que ocorreria na próxima semana, estava a renegociação do acordo de livre comércio entre Canadá, México e EUA, o Nafta, e a construção do muro.

Se for efetivamente adotada, a tarifa enterrará o acordo de livre comércio Nafta, que vigora desde 1994 entre EUA, México e Canadá, e prevê impostos de importação zerados ou muito baixos entre os países.


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