Folha de S. Paulo


Análise

Com risco de acabar, Nafta criou economia realmente integrada

Foi um tratado que criou uma economia profundamente interligada, e um quarto de século de relacionamento quase sempre caloroso entre os Estados Unidos e seus dois vizinhos.

O tratado também contribuiu para a perda de postos de trabalho industriais nos EUA e agravou o já profundo descontentamento nas comunidades que os perderam. Isso, por sua vez, ajudou a conduzir um feroz crítico do tratado à Casa Branca.

Daniel Becerril - 2.nov.2016/Reuters
Caminhoneiros mexicanos esperam na fila para poder cruzar a fronteira com Nuevo Laredo, nos EUA
Caminhoneiros mexicanos esperam na fila para poder cruzar a fronteira com Nuevo Laredo, nos EUA

Assim, o que acontece agora com o Acordo Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta)? Uma coisa é atacá-lo como "o pior acordo comercial de todos os tempos", como o presidente fez durante a campanha. Já obter um arranjo que se prove mais vantajoso para os trabalhadores e empresas dos EUA é assunto muito diferente.

Uma renegociação bem poderia conduzir a um acordo melhor para os três países. Mas isso requereria que os EUA fizessem concessões que o governo Trump pode hesitar em oferecer.

A economia da América do Norte realmente funciona como um todo integrado. As exportações dos EUA ao México, por exemplo, são hoje 350% maiores do que em 1993, em valores atualizados.

As exportações aos países membros do tratado cresceram em ritmo duas vezes mais rápido que a economia. O comércio entre os Estados Unidos e o Canadá se provou bem balanceado, mas Washington tem um deficit de cerca de US$ 60 bilhões ao ano em seu comércio com o México.

Na indústria automobilística, por exemplo, as cadeias de suprimentos cruzam a América do Norte. Se você é dono de um Ford montado no Michigan, ele pode incluir um painel fabricado em Juárez, no México e uma transmissão produzida em Windsor, Canadá. Essa complexa cadeia de suprimentos ajudou a tornar a indústria automobilística dos EUA competitiva com fabricantes da Ásia e Europa.

Desconsideradas as promessas de campanha, até mesmo algumas das pessoas que se opõem ao Nafta e a outros tratados de comércio internacional não veem a renegociação como prioridade.

Robert Scott, do Instituto de Política Econômica, vê mais a ganhar com a redefinição das relações comerciais com China, Japão, Coreia do Sul e até Alemanha.


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