Folha de S. Paulo


Cerveja mexicana Corona lança campanha contra slogan de Trump

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comercial da cerveja Corona contra discurso
comercial da cerveja Corona contra discurso "America first" de Donald Trump

"América somos todos. Chega de usar nosso nome para promover divisões."

A reação ao slogan "Make America great again" (vamos fazer os EUA grandes de novo), do novo presidente americano, Donald Trump, faz parte de um novo comercial da cerveja Corona, de origem mexicana.

A marca integra hoje o grupo belga-brasileiro AB InBev, do empresário Jorge Paulo Lemann.

O filme ressalta que América é o nome de um continente que chega do pólo Sul ao Norte, e não o dos Estados Unidos.

Na esteira de uma estratégia que vem desde o ano passado, conhecida como "Destronteirize-se", o comercial enfatiza a diversidade do continente e, no final, sugere aos espectadores que entrem na fan-page da Corona e coloquem em suas redes sociais o escudo "Somos Todos América".

A nova campanha da cerveja mexicana Corona

A nova campanha da Corona

"Somos 35 Estados unidos e nos vestimos com um só escudo, porque americanos somos todos. Por isso, a América sempre foi grande", diz o texto.

O México, sede do grupo Modelo, que criou a marca, é um dos países mais ameaçados pelo protecionismo que vem sendo prometido pelo presidente americano.

Trump vem pressionando empresas que investem no país vizinho e, segundo ele, "roubam empregos dos americanos".

Na campanha eleitoral, o novo presidente também prometeu construir um muro para defender as fronteiras americanas da entrada de imigrantes mexicanos e deportar mais de 3 milhões de estrangeiros que estariam ilegais nos EUA.

No ano passado, quando lançou o slogan "Desfronteirize-se", o gerente da marca no México, Alejandro Campos, enfatizou que, para os comerciais, estavam sendo chamados personagens que são referência nos EUA, como o ex-boxeador Mike Tyson (que participou de um filme sobre futebol), o diretor de cinema Carlos López Estrada e o diretor de fotografia Larry Fong.

Contatado pela Folha para comentar a repercussão da campanha, o escritório mexicano do grupo Modelo não respondeu até a noite desta quarta (25). No Brasil, a Ambev afirmou que, por se tratar de uma ação internacional, não poderia falar.

MARKETING DE RISCO

Campanhas como essa, que usam temas sobre os quais as opiniões são muito polarizadas, exigem uma análise de riscos muito competente, diz o diretor-executivo para a América Latina da Kantar Vermeer, Eduardo Tomiya.

"Acabei de voltar dos EUA, e o grau de disparidade e de hostilidade entre as diferentes visões é muito grande, está muito polarizado", diz.

Kevin Lamarque - 20.jan.2016/Reuters
US President Donald Trump gestures after taking the oath of office during his inauguration at the U.S. Capitol in Washington, U.S., January 20, 2017. REUTERS/Kevin Lamarque ORG XMIT: MSF891
O presidente dos EUA, Donald Trump, após juramento no dia da posse

Especialista em marcas, Tomiya diz que se aliar a um dos lados em momentos como esse fatalmente cria uma repercussão negativa para a marca entre os membros do outro lado.

"É como no futebol. Se você alia sua marca ao Corinthians, pode aumentar sua participação entre os corintianos, mas pode sofrer boicote de palmeirenses e são-paulinos."

Segundo o publicitário, por ser mexicana e globalizada, a Corona deve estar contando com um impacto positivo que supere a rejeição em regiões mais conservadoras dos Estados Unidos.

"Tenho certeza de que não só o consumo vai cair em regiões marcadamente pró-Trump como também pode ter gente entrando nas páginas da marca para atacar. Nessas horas, é preciso ter bem claro que o apoio dos amigos trará ganhos muito maiores que o repúdio dos inimigos."

Curiosamente, nota Tomiya, essa foi uma estratégia usada também por Donald Trump durante sua campanha eleitoral: radicalizou, apostando que seus apoiadores lhe dariam a vitória e superariam o risco de ter opositores.


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